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Ocupação de Mão de Obra na Cafeicultura Paranaense na Safra de 2011
O
objetivo deste artigo é apresentar e analisar estimativas da ocupação de mão de
obra na cultura do café nas regiões produtoras do Estado do Paraná em 2011,
obtidas com base em levantamento por amostragem realizado em agosto e setembro
de 2011.2 'O café foi a base da economia paranaense até meados do
século passado. Tudo começou a mudar no início da década de 1970, com a recessão
do setor, situada dentro de uma grande crise econômica mundial. Em 1975, veio a
histórica geada e a produção caiu bastante. O Paraná perdeu importância relativa
na cafeicultura nacional, mas o setor tem atuado para voltar a ser referência e,
desta vez, o objetivo do Estado é investir em café de alta qualidade'.3
Apesar das geadas ocasionais, o Paraná é favorecido pela alta fertilidade
de suas terras.
Algumas regiões vêm se especializando no segmento de café de qualidade e já
começam a colher bons frutos. A alta produtividade decorre de um forte empenho
por parte dos produtores, com objetivo de produzir uma bebida que atenda aos
mercados mais exigentes. O melhor desempenho da produção no Estado do Paraná é
resultado do clima favorável durante o ciclo de produção, do melhor investimento
em tratos culturais e do maior percentual de áreas de lavouras que vêm sendo
renovadas com podas, elevando a produtividade média. Esta técnica de poda
chama-se 'safra 100', e sua prática vem aumentando a cada ano como forma de
renovar o potencial de produtividade das lavouras. A região do norte Pioneiro,
principal produtora do Estado, formada na maior parte pelos municípios que
integram o núcleo regional da SEAB de Jacarezinho, tem sido pioneira em adotar
tecnologias para melhorar a qualidade e aumentar a produtividade média das
lavouras, obtendo excelentes resultados (Figura 1).
No
Estado do Paraná os trabalhos de colheita se concentraram nos meses de junho e
julho. O clima seco até junho foi muito favorável para o avanço dos trabalhos,
mas períodos chuvosos ocorridos durante os meses de julho e agosto dificultaram
um pouco o andamento da colheita, bem como prejudicaram a qualidade da produção.
Embora no início da safra os produtores não tivessem muita pressa em vender a
produção, a comercialização foi necessária para garantir recursos para suprir
pelo menos o custo da colheita, que representa cerca de 40% do custo de
produção.
Figura 1 – Principais Regiões Produtoras de Café no Estado do Paraná, Safra 2011.
Fonte: COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Acompanhamento da safra brasileira café, safra 2011, terceira estimativa, setembro/2011. Brasília: CONAB, 2011. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/11_09_13_12_12_02_boletim_cafe_-_setembro_-_2011..pdf>. Acesso em: nov. 2011.
O
Paraná possui 87.895 ha cultivados com café, dos quais 79.024 ha são
constituídos de lavouras em plena produção, sendo 41% delas conduzidas no
sistema adensado (média das unidades produtivas acima de 3.000 plantas por
hectare).
Dos
estabelecimentos produtores de café do Paraná, 68% têm como principal atividade
a cafeicultura. No entanto, estas unidades produtivas detêm 88% da área em
produção correspondendo a, na atual safra, 90% da produção estadual. O norte
Pioneiro é a região que possui o maior número de unidades produtivas que têm
como principal atividade o cultivo do café e, consequentemente, é a mais
importante nos quesitos de área em produção e em sacas produzidas, todas acima
de 90%. A segunda região importante é a norte central, com 3,7 mil unidades
produtivas e possuindo 65% destas unidades com produção cafeeira (Tabela
1).
Por
um longo período o café foi o principal gerador de riquezas para o Estado,
propiciando a fixação do trabalhador no meio rural além de contribuir para
coroar com êxito o modelo de colonização, tornando as pequenas e médias
propriedades economicamente viáveis numa época de poucas alternativas
agrícolas.5 O novo modelo de cafeicultura implantado no Estado atende
as finalidades de diversificação agrícola, maior oferta de empregos rurais e
aumento da fonte de renda das propriedades rurais, com comprovada melhoria de
produtividade em relação à cafeicultura tradicional. O café adensado, além de
ser orientado para adoção nas pequenas propriedades rurais, é também o
substituto das lavouras improdutivas e decadentes cultivadas no sistema
tradicional.6
Tabela 1 - Unidades Produtoras de Café onde a Cafeicultura é a Principal Atividade nas Diferentes Regiões, Estado do Paraná, Setembro de 2011
Regiões |
Número de |
|
Área em |
|
Produção |
unid. produtivas |
% |
produção (ha) |
% |
saca de 60 kg | |
Noroeste, oeste e centro-ocidental |
1.981 |
57 |
7.369 |
75 |
118.215 |
Norte central |
3.709 |
65 |
29.197 |
89 |
653.532 |
Norte Pioneiro |
4.874 |
90 |
30.992 |
96 |
753.100 |
Demais regiões do PR |
619 |
31 |
1.616 |
52 |
35.040 |
Estado |
11.183 |
67 |
69.175 |
88 |
1.559.887 |
Fonte: Dados da pesquisa.
A
cafeicultura paranaense arregimentou 101,2 mil pessoas em 2011. As categorias de
proprietários, arrendatários e parceiros (residentes e não residentes nas
unidades produtivas) somaram 42,8 mil pessoas, sendo a de proprietários mais
representativa com 26,4%. Em 2011 a cultura arregimentou, também, 54,5 mil
pessoas (54%) em caráter temporário, ocupados principalmente na colheita de 1,8
milhão de sacas beneficiadas, com produtividade média de 24 sacas por hectare
(Tabela 2).
A
região norte Pioneiro ocupou 42% do total de mão de obra na cafeicultura
paranaense, sendo a categoria assalariado temporário (residente e não residente)
a mais significativa com 61% (25,7 mil pessoas), vindo a seguir a de
proprietário com 23% (9,9 mil pessoas). O norte central foi a segunda região em
ocupação de mão de obra no Estado, com 23,1 mil assalariados temporários (58%) e
10,4 mil proprietários (26%).
Diferenciaram-se na ocupação de mão de obra o noroeste, oeste e centro-ocidental
das duas principais regiões produtoras do Estado, pois as categorias
proprietário (28%), arrendatário (29%) e parceiro (17%) foram relevantes na
condução dos cafezais e, certamente, na colheita da lavoura. É este um
diferencial importante da cafeicultura, ou seja, viabilizar o trabalho da
unidade familiar.
Tabela 2 - Estimativa da População Trabalhadora Residente e Não Residente nos Estabelecimentos com Café, por Categoria e por Região, Setembro 2011, Estado do Paraná
Categoria |
Noroeste, oeste e centro- |
% |
Norte central |
% |
Norte Pioneiro |
% |
Demais regiões |
% |
Estado do Paraná |
% |
|
-ocidental |
do PR |
||||||||||
Proprietário |
|||||||||||
Residente |
3.382 |
7.871 |
8.017 |
1.722 |
20.992 |
||||||
Não residente |
219 |
2.553 |
1.936 |
1.034 |
5.741 |
||||||
Subtotal |
3.601 |
28 |
10.424 |
26 |
9.953 |
23 |
2.756 |
45 |
26.734 |
26 |
|
Arrendatário |
|||||||||||
Residente |
2.583 |
461 |
1.226 |
369 |
4.639 |
||||||
Não residente |
1.091 |
1.036 |
69 |
- |
2.195 |
||||||
Subtotal |
3.674 |
29 |
1.497 |
4 |
1.295 |
3 |
369 |
6 |
6.834 |
7 |
|
Parceiro |
|||||||||||
Residente |
2.081 |
1.809 |
2.626 |
123 |
6.638 |
||||||
Não residente |
137 |
1.297 |
1.077 |
73 |
2.583 |
||||||
Subtotal |
2.218 |
17 |
3.106 |
8 |
3.702 |
9 |
195 |
3 |
9.222 |
9 |
|
Assalariado |
|||||||||||
Residente |
318 |
1.159 |
1.294 |
154 |
2.924 |
||||||
Não residente |
5 |
494 |
479 |
6 |
984 |
||||||
Subtotal |
323 |
3 |
1.653 |
4 |
1.772 |
4 |
160 |
3 |
3.907 |
4 |
|
Assalariado temporário |
|||||||||||
Residente |
2.761 |
905 |
347 |
123 |
4.136 |
||||||
Não residente |
282 |
22.244 |
25.388 |
2.456 |
50.370 |
||||||
Subtotal |
3.043 |
24 |
23.149 |
58 |
25.735 |
61 |
2.579 |
43 |
54.505 |
54 |
|
Total |
12.859 |
100 |
39.828 |
100 |
42.456 |
100 |
6.059 |
100 |
101.202 |
100 |
________________________________________________________________________
1Estudo integrante do
Projeto BRA/03/034 - CONAB/PNUD. Registrado no CCTC, IE-78/2010. Os autores
agradecem a estagiária Natália Cruz de Sousa.
2O delineamento amostral, o número de unidades amostradas e a estratificação dos estabelecimentos rurais estão detalhados em FRANCISCO, V. L. F. dos S. et al. Modelo estatístico e econômico para estimativa da safra brasileira de café. Informações Econômicas, São Paulo, v. 40, n. 12, dez. 2010.</
Data de Publicação: 13/02/2012
Autor(es):
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Carlota Meloni Vicente (carlota@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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