Artigos
Desenvolvimento, multifuncionalidade e território
RESUMO: O debate sobre a multifuncionalidade da agricultura
vem acontecendo há alguns anos. Desde 1992 os governos já reconhecem o caráter
multifuncional da agricultura, sobretudo no que se refere à segurança alimentar
e ao desenvolvimento sustentável. A Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização que reúne os países mais ricos,
declara em 1998 que, além da função primária de produção de fibras e alimentos,
a agricultura pode também configurar a paisagem, prover benefícios ambientais,
como a conservação dos solos, promover uma gestão sustentável dos recursos
naturais renováveis e preservar a biodiversidade, contribuindo para a
viabilidade socioeconômica das áreas rurais, desde que consideradas outras
funções que podem ser desenvolvidas, além do seu papel primário. Este ensaio tem
por finalidade trazer, mais uma vez à discussão, questões que vêm sendo postas
nas últimas décadas sobre as transformações das atividades agrícolas. Aborda a
noção de multifuncionalidade do espaço rural apoiada na “noção” de território
como uma forma de reforçar a validade de sua utilização e ampliar horizontes na
consideração das atividades agrícolas nos dias de hoje. Sob a perspectiva de que
o “território” é um lugar de construção de recursos específicos e o agricultor
um dos intervenientes entre outros existentes, adota-se a premissa do território
entendido como campo de força e de relações de poder econômico, político e
cultural, e também enquanto espaço produzido pelo exercício de poder de
determinados atores sociais e grupos hegemônicos. Enfim, a abordagem territorial
apresenta-se como uma forma de superação das dicotomias limitantes para as
análises; proporciona a inserção do global no local e vice-versa; considera a
inclusão social e a segurança alimentar igualmente importante ao desenvolvimento
econômico; permite a obtenção de conhecimentos interativos globais e locais;
oferece, sob o ponto de vista deste trabalho e como pode ser observado no plano
empírico, melhor representatividade das complexidades ambientais, culturais,
sociais, econômicas e políticas das realidades empíricas. Palavras-chave: práticas
agroecológicas, produtor familiar, restrições ambientais,
Ubatuba.
Data de Publicação: 28/04/2011
Autor(es): Nilce da Penha Migueles Panzutti (panzutti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor