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Mudanças Nas Técnicas Adotadas E Impactos No Uso De Fatores De produção na citricultura paulista nos anos 90
                                 Matrizes de coeficientes técnicos (exigência de fatores físicos) e estimativas de custo de produção de laranja destinadas à indústria para a safra 2000/2001, visando fornecer ao setor citrícola informações relevantes para a tomada de decisões, foram elaboradas para o Estado de São Paulo e deverão ser publicadas em breve na revista Informações Econômicas do IEA. 
 
            
A comparação entre dados dos tratos culturais (que não incluem colheita) dessas 
matrizes e aqueles da safra 1988/89 permite observar intensas mudanças na 
tecnologia adotada na produção de laranja e seus impactos na utilização de 
mão-de-obra e máquinas e equipamentos nos anos 90. Essa alterações seriam 
decorrentes, de um lado, pela relação de preços envolvendo os pagos pelos 
fatores de produção e os recebidos pelos citricultores - os quais apresentaram 
evolução desfavorável nesse período – e, de outro lado, pela necessidade de 
maior controle fitossanitário para conter o avanço das doenças nos pomares do 
Estado. 
            
Entre as safras 1988/89 e 2000/01, tanto o uso de mão-de-obra comum quanto o de 
máquinas e equipamentos na formação do pomar apresentam acentuadas reduções em 
dias trabalhados por hectare. A queda maior (71%) ocorreu na utilização de 
mão-de-obra comum, que passa de 108,6 para 31,4 dias. Já os dias de uso de 
máquinas e equipamento caem de 14,6 dias para 10,5, ou seja, redução de 28% 
(tabela 01). Ao longo dos quatro anos de formação do pomar, para ambos os 
fatores a redução é cada vez maior. No primeiro ano, as variações são de -37% 
para mão-de-obra comum e de -2% para máquinas e equipamentos, atingindo no 
quarto ano -94% e -66%, respectivamente. 
            
Ao se considerar esses indicadores segundo o número de plantas por hectare, as 
reduções no uso desses fatores, e conseqüentes aumentos em suas respectivas 
produtividades, são ainda mais expressivas. Por planta, as reduções percentuais 
desses fatores atingem o dobro das variações apresentadas, dado que a densidade 
era de 200 plantas/hectare no primeiro período e de 400 plantas/hectare no 
segundo. 
            
Também nos tratos culturais dos pomares em produção ocorreu acentuada redução 
(-82%) no total de dias de uso de mão-de-obra por hectare, que cai de 10,1 dias 
na safra 1988/89 para apenas 1,8 dia na safra 2000/01. Diferentemente do 
verificado na formação, na produção o total de dias trabalhados com máquinas e 
equipamentos não apresenta variação, mantendo-se constante em 2,3 dias por 
hectare (tabela 1). 
            
Todavia, os aumentos de produtividade, tanto de mão-de-obra como de máquinas e 
equipamentos, são maiores que os apresentados, dado que nos pomares em produção 
a densidade adotada era de 212 plantas/hectare no primeiro período e de 300 
plantas/hectare no segundo.

            
Observe-se, assim, que o processo de adensamento registrado na citricultura 
paulista na década de 90 contribui não só para aumento da produtividade da 
terra, mas também para maior produtividade da mão-de-obra e das máquinas e 
equipamentos. 
            
Além disso, pode-se verificar que a redução no uso de mão-de-obra comum é 
decorrente de (e distribuída entre) mudanças nas práticas culturais e nos tipos 
de máquinas e equipamentos. Essas mudanças nas técnicas adotadas pelos 
produtores apresentaram impactos diferenciados segundo as etapas da atividade 
(na formação e na produção). 
            
Na formação, estima-se que metade da redução no uso da mão-de-obra comum deve-se 
ao abandono e/ou substituição de práticas culturais com intensa utilização desse 
fator e à adoção de técnicas intensivas em capital, enquanto outros 50% devem-se 
à utilização de máquinas e equipamentos com maior desenvolvimento tecnológico, 
em operações anteriormente já mecanizadas. 
            
Em termos dos impactos decorrentes das mudanças nas práticas culturais e da 
adoção de técnicas intensivas em capital, destacam-se principalmente as 
liberações de mão-de-obra comum registradas no conjunto das operações de limpeza 
da área ocupada com a cultura. Assim, ocorreram a eliminação da operação de 
coroamento e a redução dos dias trabalhados com trator e grade na operação de 
capina mecânica, que foram substituídas pela adoção de herbicida e por operação 
com trator e roçadeira. A redução nos dias de mão-de-obra comum também ocorreu 
no plantio propriamente dito (1º ano), pois as operações de marcação e adubação 
de covas, antes manuais, foram substituídas pela operação de trator e sulcador 
no plantio. Também houve eliminação da operação de feitura da bacia (abandonada 
após a adoção de limpeza com herbicida e com trator e roçadeira). 
            
Quanto aos impactos das máquinas e equipamentos com maior desenvolvimento 
tecnológico (em operações anteriormente já mecanizadas), a liberação de 
mão-de-obra comum foi decorrente da introdução da carreta distribuidora de 
calcário e de adubo, da maior eficiência dos pulverizadores acoplados ao trator 
e, principalmente, da adoção do pulverizador atomizador no 4º ano da formação. 
Embora tenha ocorrido pequeno aumento nas horas trabalhadas na aplicação de 
herbicidas e no uso da carreta distribuidora de calcário e de adubo, ocorre 
redução bem mais acentuada nas horas relacionadas com o uso dos pulverizadores e 
com a diminuição da capina mecânica 
            
No pomar em produção, as mudanças no uso dos fatores ocorreram na mesma direção 
das registradas na formação, mas com diferentes intensidades. 
            
Quanto ao uso da mão-de-obra comum, estima-se que cerca de 2/3 da redução 
deve-se ao abandono e/ou substituição de práticas culturais com intensa 
utilização desse fator e à adoção de técnicas intensivas em capital, assim como 
que 1/3 se relaciona à utilização de tipos de máquinas e equipamentos com maior 
desenvolvimento tecnológico (em operações anteriormente já mecanizadas). Com 
relação à utilização de máquinas e equipamentos, no período não há variação no 
total de horas trabalhadas no pomar em produção. 
            
Nos pomares em produção, as liberações de mão-de-obra comum relacionadas com 
mudanças nas práticas e adoção de novas técnicas decorreram basicamente da 
eliminação da operação de coroamento e da utilização de herbicida, enquanto as 
reduções devidas às novas máquinas e equipamentos aconteceram nas operações de 
adubação em cobertura e de pulverização, com a utilização da carreta 
distribuidora de calcário e do pulverizador atomizador, que substituem, 
respectivamente, carreta e pulverizador acoplados ao trator. 
            
Ainda nos pomares em produção, embora não tenham ocorrido variações 
quantitativas nas horas trabalhadas com máquinas e equipamentos por hectare, as 
mudanças nas praticas culturais e nas máquinas e equipamentos utilizados 
acarretaram mudanças qualitativas no uso desse fator. Reduções nas horas 
trabalhadas de trator com grade (capina mecânica) e com carreta (distribuição de 
calcário e de adubo) foram praticamente contrabalançadas por aumentos nas horas 
trabalhadas de trator, principalmente com pulverizador atomizador e, em menor 
escala, com roçadeira e com pulverizador para aplicação de herbicida. Apesar da 
maior eficiência do pulverizador atomizador, em relação ao pulverizador acoplado 
ao trator anteriormente utilizado, o aumento de horas-máquina na pulverização 
deveu-se à necessidade de aumento no número de tratamentos fitossanitários no 
período em consideração. 
            
Observe-se, por fim, que, embora a grande demanda de mão-de-obra comum na 
citricultura aconteça na colheita, sua utilização ainda é significativa no 
plantio e nos tratos culturais, principalmente nos primeiros anos da formação. 
Assim, a redução registrada nos últimos anos na área cultivada com laranja no 
Estado, decorrente da eliminação de pomares em produção e da menor taxa de 
formação dos pomares, é um elemento que pode atuar negativamente sobre o emprego 
de mão-de-obra comum na citricultura paulista. Além disso, essa questão também 
tende a ser agravada por provável aumento da produtividade da mão-de-obra na 
operação de colheita, independentemente de avanços tecnológicos na mecanização 
dessa operação, em decorrência das crescentes preocupações e melhorias na gestão 
da atividade e do aumento da profissionalização registrado no setor.  
Data de Publicação: 11/06/2002
                Autor(es): 
                Arthur Antonio Ghilardi (arthurghi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Lucia Maia (mlmaia@iac.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Antonio Ambrósio Amaro (amaro.pingo@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
João Dagoberto De Negri (dagoberto@centrodecitricultura.br) Consulte outros textos deste autor              
                    
                        