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Café: especulação faz desabar as cotações
As cotações do café não se sustentaram em fevereiro, caindo em todos os mercados físicos e de futuros, devido essencialmente às ações dos fundos de investimento. Isto ocorreu apesar dos fundamentos de alta (incremento do consumo aliado a baixos estoques). Também deve se levar em conta tanto a baixa disponibilidade de café no primeiro semestre de 2006 quanto a queda nas exportações, que foi de 16,50% em janeiro de 2006 comparada com igual mês de 2005), segundo a Organização Internacional do Café (OIC)1.
Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica caíram 5,97%, em relação à cotação média de janeiro de 2006 (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou queda de 2,72% (igualmente para a segunda posição), devido à maior oferta dos países Asiáticos. No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve baixa de 3,34% (segunda posição). O indicador OIC-Composto diário apresentou redução de 3,77% em relação à média do índice de janeiro (gráfico 1).
O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque diminuiu para US$ 8,92 a saca, 34,41% superior à média do mês anterior, devido à menor exportação brasileira e à maior pressão da demanda no mercado de Nova Iorque. As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram tendência de contínua queda durante a primeira quinzena de fevereiro, para se estabelecer em novo patamar que persistiu até o final do mês (gráfico 2).
O mercado de robusta, na Bolsa de Londres, também manteve forte tendência de queda nos primeiros dez dias do mês de fevereiro, flutuando no novo patamar até o final do mês. O comportamento das cotações no mercado de Londres em fevereiro, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 3.
Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em fevereiro, indica variação positiva acumulada de 13,77% em 2006 e de 0,60% em doze meses. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, tiveram queda de 1,50% no acumulado dos últimos doze meses e de 13,56% em 2006. Por sua vez, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de 43,95% nos últimos doze meses e de 7,09% em 2006. Já a estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 8,94% nos últimos doze meses e de 12,49% em 2006.
Na cafeicultura paulista, as cotações médias em fevereiro do café arábica caíram 6,68% em relação à média de janeiro de 2006, em função da baixa em todos os mercados internacionais. Houve portanto queda acumulada nos últimos doze meses de 7,90%, enquanto que em 2006 se observou alta acumulada de 10,81% (gráfico 4). Todavia, esta alta em 2006 poderia ser muito maior, se o dólar não tivesse apresentado queda de 8,77% no acumulado dos últimos dois meses.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
A onda de calor observada em janeiro e fevereiro, associada a veranicos notadamente no cinturão de robusta capixaba, pode rebaixar o volume de colheita esperado para a atual safra - entre 40,4 e 43,5 milhões de sacas, segundo o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)2 -, sem contar a perda de qualidade dos grãos como menor peneira e maior formação de tipo moca.
Na Alta Mogiana, Sul de Minas e Zona da Mata mineira, o abortamento dos frutos do cafeeiro foi tecnicamente associado às altas temperaturas médias registradas, estimando-se pelo menos 10% de redução na colheita. O veranico no norte capixaba pode gerar significativas perdas na safra de conilon, produto que enfrenta mais acentuada escassez que o arábica. Nos demais cinturões cafeeiros como os cerrados mineiro e baiano, a redução na oferta de nutrientes, devido à menor adição de fertilizantes, pode gerar menor rendimento na colheita, amplificando os efeitos restritivos impostos pelo clima.
O avanço da cultura da cana-de-açúcar em São Paulo limita bastante a atratividade da cafeicultura, não sendo observado movimento de plantio fora da média dos últimos 10 anos (mais ou menos 15 mil a 20 mil hectares). Nos demais estados produtores, não há relatos de fortes investimentos na implantação de novas lavouras e, pelo menos no médio prazo, excedentes de oferta não se apresentam no horizonte.
Queda nas exportações mundiais
Recente relatório da OIC aponta expressiva queda nas exportações mundiais em janeiro de 2006, com redução de 16,5% frente a igual mês do ano anterior. No total, foram exportadas apenas 6,17 milhões de sacas (frente às 7,39 milhões vendidas ao exterior em janeiro de 2005). Na prática, metade dessa quebra nos embarques decorre da redução das exportações brasileira e colombiana, cujos embarques foram, respectivamente, de 448 mil e 265 mil sacas a menos.
No período de fevereiro de 2005 a janeiro de 2006 (doze meses), verificou-se redução de 6,7% nas exportações mundiais, que totalizaram 85,49 milhões de sacas embarcadas frente às 91,65 milhões observadas em igual período anterior. Esse fato denota ainda mais os fundamentos que deverão pautar o mercado nos próximos meses.
Consenso em torno do draw back
Encontros entre representantes/líderes dos diversos segmentos do agronegócio estão resultando na construção de consenso em torno da relevância e necessidade de uma política de draw back para o café. Argumentos da indústria de solúvel e, também da torrefação, foram avaliados.
A noção de que a implementação desse tipo de operação é atualmente uma exigência competitiva para o agronegócio é o principal resultado alcançado nesses encontros. Caso esses agentes atuem com a celeridade necessária, provavelmente ainda nesse ano vai-se relatar a primeira operação envolvendo a importação de café verde para processamento e exportação no Brasil, após longos e penosos enfrentamentos que a temática fez emergir.
Mercado de créditos de carbono no café?
Com a adesão da Rússia ao Protocolo de Kyoto, robusteceu-se o mercado de compra de títulos vinculados à captura/redução das emissões de carbono e metano, gases formadores do efeito estufa e de outros distúrbios climáticos. Naturalmente, as atividades de reflorestamento saíram na frente nos primeiros negócios envolvendo a venda de títulos. Mais recentemente, a agroindústria canavieira (adição de álcool à gasolina) e a construção de biodigestores nas granjas de aves e suínos ensaiaram as primeiras captações de recursos por meio dos títulos de carbono.
No agronegócio café, embora careça de estudos mais aprofundados, o caráter permanente da cultura, associado ao volume de resíduos gerados (cascas) e aos gases liberados no processo de torrefação, enseja oportunidades para também acessar esse novo mercado. Isto desde que estudos multidisciplinares sejam conduzidos por equipes capacitadas para adentrar a esse complexo assunto.
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1 OIC: www.ico.org
2 CONAB: www.conab.gov.br
3 Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-20/2006
Data de Publicação: 08/03/2006
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor