Descompasso nas Cotações Futuras do Mercado de Café

Sinais de que a retomada da economia não ganhará impulso no primeiro trimestre de 2017, associados ao avanço do índice de desemprego, posicionam os preços em rota descendente. Inexistindo qualquer choque de oferta no curto prazo, espera-se que os preços se acomodem em patamares dentro do miolo da meta do Banco Central para o ano. Inflação controlada com baixo ou nenhum crescimento foram ambiente propício para queda na taxa de juros básica da economia. Assim, os contratos de juros futuros negociados na BM&F-Bovespa exibem tendência de baixa para patamares próximos dos 12% em meados de 2017 (Figura 1).



A falta de clareza sobre a natureza da política fiscal (expansionista?) a ser conduzida pelos Estados Unidos, assim que o novo governo tomar posse naquele país, favorece a especulação nas posições de dólar no mercado futuro da BM&F-Bovespa. Em dezembro, houve desvalorização do dólar frente ao real na média dos vencimentos futuros do dólar(Figura 2).


 

Prevaleceu a tendência baixista para os contratos futuros de arábica negociados na Bolsa de Nova York em dezembro. A estimativa de produção da safra brasileira 2016/17, elaborada pelo Departamento Americano de Agricultura (USDA), apontando colheita de 56 milhões de sacas, promoveu ajustes nas tabelas de oferta e demanda global do produto, adicionando cerca de 3,0 milhões de sacas de excedente na safra. Diante de tal estatística, o mercado não teve mais suporte e as cotações semana a semana do mês recuaram (Figura 3).


Os contratos para entrega em setembro de 2017, por exemplo, na média das cotações da primeira semana do mês, registravam US$148,32/¢lbp, declinando para US$141,71/¢lbp na média da quarta semana, ou seja, contração de 4,45% no período. Essa queda se transmitiu ao mercado interno, uma vez que, em Franca, Estado de São Paulo, o preço médio recebido pelos cafeicultores na primeira semana do mês foi de R$551,96/sc. (equivalente a US$/126,70¢lbp considerando US$1,00=R$3,30), encerrando-o valendo R$518,62/sc. (US$118,85/¢lbp)2 (Figura 4).

 

Em sentido contrário ao registrado pelo mercado de café arábica, a média das cotações semanais dos contratos futuros de robusta na Bolsa de Londres exibiu tendência de alta com consecutivas mudanças de patamar das curvas. Paradoxalmente, os investidores no mercado futuro de café reconhecem a escassez de robusta (alavancando suas cotações), mantendo, porém, pressionadas as de arábica, quando tem ocorrido substituição relativa na liga em favor desta. Essa divergência poderá ser custosa no curto prazo com disparada nas cotações de arábica, especialmente se forem confirmadas as intenções do Brasil importar produto.

Embora seguindo trajetória descendente, o número de contratos comprados negociados semanalmente na Bolsa de Nova York ainda superou as posições vendidas entre os fundos e grandes investidores (Tabela 1). Tal movimentação, aparentemente, não é condizente com a queda nas cotações observada no mês. Há investidores apostando em alta para o produto, fiando-se menos do que o esperado nas projeções do USDA quanto à normalidade para o fluxo de abastecimento do mercado.


 

 

Para a safra em andamento, espera-se diminuição nos custos de produção, uma vez que o segmento de fertilizantes e de defensivos não ofereceu expressivas majorações em seus preços. Tal fato contribui na possibilidade de geração de ganho para os cafeicultores, que pode até se fortalecer caso ocorra a antevista desvalorização da moeda a médio prazo.

 

 

___________________________________________ 

1O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 

 

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: jan. 2017. 

 

Palavras-chave: mercado futuro, cotações de café, Bolsa de Valores.



Data de Publicação: 09/01/2017

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor