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Perspectivas para o Mercado Mundial de Alimentos
A elevação dos preços dos alimentos em âmbito
mundial, nos últimos anos, como mostra o salto de 97,7 para 209,9 no Índice de
Preços de Alimentos da Food and Agriculture Organization (FAO)1, entre
2003 e 2009, suscita a análise das participações dos principais players, seja como oportunidade para
geração de divisas do lado dos ofertantes, seja como aumento no dispêndio por
parte dos importadores (Figura 1). Nesse sentido, as previsões ganham maior
relevância para subsidiar ações em ambas as categorias de países que participam
do comércio internacional. O artigo tem por objetivo analisar as perspectivas
de oferta e demanda de alimentos no mercado mundial. Especificamente, são
avaliados a produção, o consumo e as exportações dos seguintes grupos de
alimentos2: a) cereais compostos por cevada, milho, aveia, sorgo e
outros grãos forrageiros; b) farelos de canola, soja e de girassol; c) óleos de
canola, soja, girassol, coco, algodão, amendoim e de palma; e d) carnes bovina,
suína, de frango e ovina. As séries de dados originais se referem às projeções
para o período de 2013 a 2022, elaboradas pela OECD-FAO3, sobre as
quais foi aplicado o cálculo da taxa geométrica média anual de crescimento. A abrangência geográfica se estende aos principais
países produtores e consumidores. A análise do grupo de farelos é justificada
por constituírem insumos, através do arraçoamento, para a produção de carnes. A previsão para a produção mundial de alimentos
mostra crescimento de 1,4% a.a. para os cereais, 2,1% a.a. para os farelos, 2,0% a.a. para os óleos vegetais e de 1,6% a.a.
para carnes, com expectativa similar para o consumo desses itens (Tabela 1). A perspectiva para os países
produtores e exportadores é de que, nos Estados Unidos,
maiores produtores de milho, a produção de cereais deva crescer apenas 1,0% a.a.
A mesma taxa prevista para o Brasil. Esse comportamento pode ser justificado
pela expansão da soja, cultivo que concorre em área em ambos os países, apesar
dos avanços na produtividade deste cereal. O aumento mais expressivo para o
grupo desses produtos, da ordem de 2,8% a.a., é esperado para a Argentina. As produções de farelos e de óleos devem ter
crescimentos similares por serem obtidos pelo mesmo processamento. O grão de
soja tem a característica de ser rico em proteína, motivo pelo qual é
amplamente empregado na elaboração de rações. O óleo de palma e o de soja representam 34,5% e
26,4%, respectivamente, da produção mundial de óleos vegetais4. Estados
Unidos, Brasil e Argentina respondem pela metade das produções de farelo e de
óleo de soja, enquanto Indonésia e Malásia por 87% da de óleo de palma. No que
se refere às produções de farelos e de óleos, os Estados Unidos apresentam o
menor crescimento, ao passo que no Brasil a taxa deve ser de 2,4% a.a. (Tabela
1). Na Argentina são previstos aumentos mais
expressivos nas produções de farelos e de óleos, em virtude da expansão da
sojicultura e da estrutura tributária, que incentiva as exportações de semimanufaturados
agrícolas. O sistema tributário argentino também justifica os aumentos de 4,2% a.a.
e de 5,4% a.a., respectivamente, nas vendas externas de farelos e de óleos. Aproximadamente 70% da produção de soja é
processada na Argentina, enquanto nos Estados Unidos, a parcela é de 50% e, no
Brasil, de 40% apenas5. Esse comportamento se deve à estrutura
tributária brasileira, que desonera as exportações do complexo, o que se traduz
em disputa pela matéria-prima entre a indústria processadora e as tradings, além do aumento nas exportações do grão em
detrimento dos derivados. Quanto à
produção de carnes, a Argentina é o país que deve apresentar a taxa de
crescimento mais acentuada e o perfil agroexportador explica a perspectiva de expansão
de 7,7% a.a. nas exportações. Os Estados Unidos e o Brasil são os maiores
produtores de carne bovina – cerca de 15% cada um6 - e suas
exportações devem crescer apenas 2% a.a., em virtude da importância que os
mercados domésticos assumem para a demanda de proteína animal. A China responde
pela maior parcela da produção de carne suína, assim como da de frango, as
quais serão consumidas internamente a um ritmo de 1,6% a.a. Um aspecto a ser destacado se refere à demanda nos
países em desenvolvimento. Nessas nações, devem ocorrer os crescimentos mais
acentuados no consumo de cereais (1,8% a.a.), de farelos (2,8% a.a.), de carnes
(1,9% a.a.) e de óleos (2,2% a.a.). Na China, o consumo de farelos deve crescer
2,5% a.a., com possibilidade da mesma tendência para a produção de carnes. A
exceção é a União Europeia, onde o aumento esperado no consumo de óleos pode
ser atribuído, principalmente, à produção de biodiesel. O bloco econômico
responde por 40% da produção mundial do biocombustível7. A considerar as projeções de oferta para o próximo
decênio, espera-se que a Argentina deva ratificar sua importância nas
exportações de alimentos. Tal expectativa se justifica pela tradição
agroexportadora do país e, também, pelos mercados domésticos estadunidense e
brasileiro. Do lado da demanda, os aumentos mais expressivos
deverão ocorrer nos países em desenvolvimento em virtude do padrão socioeconômico
predominante, com potencial para aumento no consumo de alimentos. Esse
argumento se justifica, por exemplo, pelo consumo per capita de carnes de 26,5 kg, contra 64,3 kg dos países
desenvolvidos8. Por fim, a volatilidade nos preços, a exemplo da
registrada mais recentemente que esteve relacionada ao comportamento dos preços
do petróleo, tende a reforçar as posições dos players no mercado mundial, seja nos ganhos em divisas para os
exportadores, seja em aumento do dispêndio, principalmente para os importadores
mais pobres. Em ambas as categorias,
políticas públicas devem ser estabelecidas para nortear as ações com vistas
ao melhor desempenho econômico e acesso aos alimentos. ________________________________________ 1FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION - FAO. FAO
food price index. Rome: FAO. Disponível em: <http://www.fao.org/worldfoodsituation/foodpricesindex/en/>.
Acesso em: 05 mar. 2014. 2Para a
caracterização dos mercados internos nos Estados Unidos, no Brasil e na
Argentina são adotados como proxy o
milho para o grupo de cereais, e o farelo e o óleo de soja para os respectivos grupos. 4UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Foreign
Agricultural Service - USDA/FAS. Oilseeds:
world markets and trade. Washington: USDA/FAS, 2014. Disponível em:
<http://www.fas.usda.gov/>. Acesso em: 05 mar. 2014. 5Op. cit. nota
4. 6Op. cit. nota
3. 7Op. cit. nota
3. 8Op. cit. nota
3. Palavras-chave: alimentos, projeções, oferta,
demanda.
Data de Publicação: 04/04/2014
Autor(es):
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Roberto Ferreira Bueno Consulte outros textos deste autor