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Efeito cana eleva preços agropecuários em 15,43% no encerramento do mês de maio
O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista
(IqPR)1,2 encerrou o mês de Maio de 2011 com variação positiva de
15,43%. O IqPR-V (produtos de origem vegetal) registrou alta de 23,45%, enquanto
que o IqPR-A (produtos de origem animal) encerrou em baixa de 4,50% (Tabela
1).
Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice (devido a sua
importância na ponderação dos produtos) se tem outro cenário, com
os índicesIqPR e IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) fechando
o mês negativamente em 3,56% e 2,65%, respectivamente (Tabela 1).
Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Maio de 2011 e Acumulado nos Últimos 12 Meses
Índice Acumulado |
São Paulo |
São Paulo - sem cana | ||
Variação Maio/10 |
Acumulada 12 meses |
Variação Maio/10 |
Acumulada 12 meses | |
IqPR |
15,43 % |
34,02 % |
- 3,56 % |
20,97 % |
IqPR-V |
|
39,50 % |
- 2,65 % |
23,21 % |
IqPR-A |
- 4,50 % |
17,88 % |
? |
? |
Para a variação acumulada nos últimos 12 meses, os resultados registraram
expressivas variações positivas: 34,02% para o IqPR; 39,50% para o IqPR-V
(vegetais) e 17,88% para o IqPR-A (animais).
Desconsiderando a cana-de-açúcar no cálculo acumulado dos índices, tanto o IqPR
quanto IqPR-V, embora positivos, são menores em 13 pontos percentuais o
primeiro, que encerra os últimos 12 meses com 20,97%; e em 16 pontos percentuais
o segundo, que fecha o acumulado em 23,21% (Tabela 1) puxado principalmente
pelos preços do café (86,08%), algodão (56,08%), milho (63,49%), tomate para
mesa (48,41%) e trigo (30,79%) (Tabela 2).
Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Maio de 2011
Origem |
Produto |
Unidade |
Cotações (R$) |
Variação mensal (%) |
Variação Mai/11-Mai/10 (%) | |
Abril/11 |
Maio/11 | |||||
VEGETAL |
Algodão |
15 kg |
111,66 |
82,50 |
-26,12 |
56,08 |
Amendoim |
sc.25 kg |
32,06 |
31,69 |
-1,15 |
5,54 | |
Arroz |
sc.60 kg |
27,77 |
27,60 |
-0,60 |
-23,42 | |
Banana nanica |
cx.21 kg |
10,49 |
9,84 |
-6,25 |
0,79 | |
Café |
sc.60 kg |
491,74 |
499,40 |
1,56 |
86,08 | |
Cana-de-açúcar |
kg de ATR |
0,4022 |
0,5736 |
42,62 |
47,53 | |
Feijão |
sc.60 kg |
83,06 |
110,83 |
33,44 |
-23,51 | |
Laranja p/ Indústria |
cx.40,8 kg |
14,02 |
13,59 |
-3,04 |
-1,81 | |
Laranja p/ Mesa |
cx.40,8 kg |
21,21 |
16,60 |
-21,73 |
7,82 | |
Milho |
sc.60 kg |
25,58 |
24,79 |
-3,12 |
63,49 | |
Soja |
sc.60 kg |
41,87 |
40,97 |
-2,14 |
20,42 | |
Tomate p/ Mesa |
cx.22 kg |
29,57 |
41,04 |
38,78 |
48,41 | |
Trigo |
sc.60 kg |
30,11 |
30,08 |
-0,08 |
30,79 | |
ANIMAL |
Carne Bovina |
15 kg |
100,33 |
97,78 |
-2,54 |
24,60 |
Carne de Frango |
Kg |
1,80 |
1,61 |
-10,48 |
15,69 | |
Carne Suína |
15 kg |
50,81 |
46,50 |
-8,48 |
-12,29 | |
Leite B |
Litro |
0,80 |
0,85 |
5,04 |
-0,19 | |
Leite C |
Litro |
0,71 |
0,75 |
5,74 |
-4,24 | |
Ovos |
30 dz |
51,33 |
45,38 |
-11,61 |
16,21 | |
Os produtos do IqPR que registraram as maiores altas nesta quadrissemana foram:
cana de açúcar (42,62%), tomate para mesa (38,78%), feijão (33,44%), leite C
(5,74%) e o leite B (5,04%) (Tabela 2).
Para a cana-de-açúcar, o reposicionamento dos preços da matéria prima
sucroalcooleira na entrada da nova safra acontece uma vez que na entressafra os
preços do açúcar e principalmente do álcool (tanto anidro como hidratado)
tiveram majorações expressivas. Os novos preços dos produtos finais redefiniram
o novo patamar de preços da matéria prima na entrada da nova safra, o que
explica o expressivo aumento verificado.
Para o tomate de mesa, a menor oferta decorrente das chuvas e temperaturas acima
da média na primeira metade de maio provocou perdas de produto, que numa
conjuntura de demanda aquecida gerou a elevação dos preços.
O feijão, dada a perspectiva de oferta menor que a demanda nos próximos meses,
consolida-se tendência de alta já precificando a ocorrência de escassez que
vigorará até a entrada da colheita dos primeiros plantios de inverno.
No leite C, a proximidade do inverno com as primeiras manifestações do frio já
sinaliza redução da oferta do produto em virtude da redução do volume e
qualidade das pastagens, gerando expectativa de elevação dos preços também
pressionados pela demanda. Mesma tendência está indicada para o Leite B, porém
em menor intensidade, já que os produtores de "B" são menos dependentes das
pastagens.
Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços em Maio foram: algodão
(26,12%), laranja para mesa (21,73%), ovos (11,61%), carne de frango (10,48%),
carne suína (8,48%) e banana (6,25%) (Tabela 2).
O algodão apresentou queda conjuntural em função do movimento de redução dos
preços internacionais, numa conjuntura em que a tendência dos preços estará
associada tanto ao ritmo da recuperação da economia européia e norte-americana
quanto ao reflexo da demanda. No Brasil, os preços da pluma sofrem o efeito das
importações de têxteis chineses feitos pela agroindústria nacional de vestuário
e confecções.
Apresentando os melhores preços dos últimos anos, a entrada da safra paulista da
laranja aumentou a oferta de frutas, diminuindo o preço recebido pelos seus
produtores (os quais ainda se mostram muito elevados). No caso da laranja para
indústria, além dos patamares inferiores, as quedas foram menores, dados os
contratos de integração firmados.
Mesmo com a antecipação de descartes, o baixo consumo de ovos não absorveu o
volume de produção ofertado no mercado, reduzindo os preços recebidos pelos
produtores de ovos paulistas.
Para a carne de frango, a boa oferta frente à demanda estabilizada reflete queda
nas cotações das aves. Além de frango no mercado spot, animais oriundos
de integrações continuaram apresentando excedentes nos corredores de abate, o
que movimentou para baixo os preços recebidos pelos criadores.
No caso da carne suína, mesmo com a não existência de uma grande oferta de
cevados, o consumo reduzido de carnes em geral e a concorrência da produção
competitiva dos outros estados tem dificultado a colocação do produto paulista
no mercado e balizado negativamente os preços recebidos pelos
suinocultores.
Os preços da banana comportaram-se dentro dos padrões de variação sazonal. Com a
intensificação do frio e redução das chuvas a formação dos cachos é retardada e
reduz a oferta, em contrapartida o consumo cai mais que proporcionalmente, tanto
pela aparência da banana como pela oferta de frutas concorrentes, como as frutas
cítricas (laranja e tangerinas). O preço de maio de 2011 foi praticamente igual
ao de maio de 2010.
No período analisado, 6 produtos apresentaram alta de preços (4 origem vegetal e
2 de origem animal) e 13 apresentaram queda (9 vegetal e 4 animal).
Na análise do comportamento dos índices acumulados de preços agropecuários
paulistas devem ser considerados isolados os impactos da cana-de-açúcar, pois
este produto além de ter participação expressiva na ponderação do índice, possui
uma estrutura de mercado e de formação de preços peculiar. A cana–de –açúcar
consiste na matéria prima para a produção de açúcar e energia (notadamente
álcool) cuja remuneração da unidade comercializada (tonelada de cana) se dá pelo
preço associado ao rendimento agroindustrial (expresso em açúcar total
recuperável - ATR). Os altos preços do açúcar e do álcool (etanol), na última
entressafra da cultura, apontaram para um aumento anualizado de 47,53% do preço
recebido pela matéria prima, dos quais 42,62% são reajustes repassados no último
mês de maio. Este acontecimento elevou consideravelmente tanto o IqPR quanto o
IqPR-V dos últimos 12 meses (Figura 1).
A safra paulista de cana-de-açúcar vai do final de abril ao final de novembro. A
entrada da nova safra, com uma perspectiva de preços internacionais elevados
para o açúcar (com remuneração que suplanta a atual condição de câmbio
valorizado), e internos altos para o álcool (dada a redução dos investimentos em
novas plantas agroindustriais para produção nos últimos dois anos) projeta
oferta em patamares inferiores ao crescimento da demanda. Em função disso, a
elevação dos preços da cana-de-açúcar na entrada da nova safra reflete um nítido
reposicionamento dos preços da matéria prima para patamares compatíveis com os
custos agroindustriais do álcool combustível e com a recomposição de margens que
recoloquem os investimentos em novas destilarias em patamar de atratividade. De
outro lado, como os custos dos combustíveis teriam impacto inflacionário muito
maior, mesmo com os preços internacionais do petróleo estando em níveis muito
acima dos anos anteriores, isto não se refletiu em elevação dos preços da
gasolina (substituto direto do álcool combustível) pela notória "administração"
dos preços internos feita pela Petrobrás durante todo o ano de 2010, o que
deslocou o preço referencial do petróleo para fixação do preço da gasolina no
mercado interno. O fato é que não existe uma "administração centralizada" do
mercado de álcool combustível e as perspectivas são de preços elevados no final
desta safra e na próxima entressafra, expectativas com que se opera o
reposicionamento atual dos preços da matéria prima.
Trata-se de processo clássico de formação de preços em regime de oligopólio, que
na estrutura de mercado e formação de preços dos conglomerados agroindustriais
sucroalcooleiros leva os agentes econômicos a protegerem suas margens e formarem
expectativas favoráveis aos investimentos num cenário de demanda potencial
crescente ocasionado pelo aumento da frota de veículos. Ademais,
ressalte-se que os impactos inflacionários (para o consumidor) dos
aumentos dos preços do álcool combustível e do açúcar já estão dados, o que faz
com que a elevação do índice de preços agropecuários projete-se como espelho de
imagem já consolidado na demanda final, ou seja, não haverá rebates
inflacionários imediatos. Noutras palavras, paradoxalmente, os preços do
álcool combustível para o consumidor (na bomba do posto de gasolina) recuam em
níveis elevados exatamente no momento em que os preços da matéria prima são
reposicionados para cima na entrada da nova safra. Isto indica que o atual
reposicionamento dos preços da matéria prima reflete o patamar de preços
passados atingidos pelos produtos finais e as expectativas de preços futuros no
horizonte do final da safra e próxima entressafra.
Figura 1. Evolução do Índice Acumulado
Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista Com
Cana-de-açúcar, Maio de 2010 a Maio de 2011
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
(IEA).
Explicitada essa peculiaridade dos índices de preços agropecuários paulistas,
mostra-se relevante a análise do comportamento dos mesmos sem a cana-de-açúcar.
Com base na evolução desses novos indicadores se verifica que há uma tendência
consistente de recuo dos preços agropecuários no geral desde março próximo
passado (Figura 2). Isso permite afirmar que os impactos inflacionários
imediatos dos preços agropecuários são positivos uma vez que se vislumbra no
curto prazo contribuição positiva dos preços setoriais para o recuo do índice
geral de preços da economia, ou seja, para a redução dos patamares da inflação
mensal.
Figura 2 - Evolução do Índice Acumulado
Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista Sem
Cana-de-açúcar, Maio de 2010 a Maio de 2011
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
(IEA).
Na comparação dos últimos 12 meses verifica-se, entretanto, que já está
consolidada uma realidade de preços agropecuários mais elevados entre maio de
2011 e maio de 2010 para café (+86,08%), milho (+63,49%), algodão (+56,08%),
tomate para mesa (+48,41%), cana-de-açúcar (+47,53%), trigo (+30,79%), carne
bovina (+24,60%), soja (+20,42%), ovos (+16,21%), carne de frango (+15,69%),
laranja para mesa (+7,82%) e amendoim (+5,54%) (Tabela 2). Para a banana nanica
(+ 0,79%) e leite B (-0,19%) os patamares de preços são similares.
Encontram-se abaixo aos de 2010 os preços do feijão (-23,51%), arroz (-23,42%),
carne suína (-12,29%) e leite C (-4,24%). De qualquer maneira, a junção de
movimentos mais largos (últimos 12 meses) com mais curtos (último mês) ainda não
autoriza previsões mais consistentes para os impactos inflacionários dos preços
agropecuários no decorrer dos próximos meses deste ano, pois tudo dependerá da
pós-safra de muitos produtos (laranjas, leites e carnes) e da resposta da oferta
nas próximas colheitas (feijão e olerícolas).
__________________________________________
1A fórmula de cálculo do índice
(IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção
agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e
divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os
preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das
quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/05/2011 a 31/05/2011 e
base = 01/04/2011 a 30/04/2011.
2Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573>.
Data de Publicação: 06/06/2011
Autor(es):
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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