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Preços Agropecuários encerram o mês de março em alta de 3,32%
O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela
Agropecuária Paulista (IqPR)1,2 fechou o mês de março em alta de 3,32%
num nítido processo de aceleração em plena safra das águas. O IqPR-V (produtos
de origem vegetal) e o IqPR-A (produtos de origem animal) registraram altas
respectivas de 3,45% e 2,98% (Tabela 1).
Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Março de 2011 e Acumulado nos Últimos 12 Meses.
Índice Acumulado |
São Paulo |
São Paulo - sem cana | ||
Variação Março/11 |
Acumulada 12 meses |
Variação Março/11 |
Acumulada 12 meses | |
IqPR |
3,32 % |
25,43 % |
4,37 % |
34,89 % |
IqPR-V |
|
24,49 % |
5,68 % |
42,00 % |
IqPR-A |
2,98 % |
26,35 % |
? |
? |
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, devido a sua
importância na ponderação dos produtos, o IqPR sobe para 4,37% e o IqPR-V
(cálculo somente dos produtos vegetais) eleva-se para 5,68%, uma vez que a cana
cresceu 1,82% no período, patamar elevado mas inferior aos demais produtos
vegetais ( (Tabela 1).
Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Março de 2011.
Origem |
Produto |
Unidade |
Cotações (R$) |
Variação mensal (%) |
Variação Mar.11/Mar.10 (%) | |
Fevereiro /11 |
Março /11 | |||||
Amendoim |
Sc.25 kg |
30,84 |
27,86 |
-9,67 |
10,03 | |
Arroz |
sc.60 kg |
28,80 |
28,48 |
-1,10 |
-18,92 | |
Banana nanica |
cx.21 kg |
6,30 |
7,73 |
22,72 |
-30,86 | |
Café |
sc.60 kg |
461,16 |
494,38 |
7,20 |
91,33 | |
Cana-de-açúcar |
kg de ATR |
0,3842 |
0,3912 |
1,82 |
12,49 | |
Feijão |
sc.60 kg |
60,20 |
88,60 |
47,19 |
-4,21 | |
Laranja p/ Indústria |
cx.40,8 kg |
15,01 |
14,73 |
-1,92 |
56,07 | |
Laranja p/ Mesa |
cx.40,8 kg |
25,39 |
27,14 |
6,92 |
25,77 | |
Milho |
sc.60 kg |
25,88 |
26,65 |
2,98 |
81,63 | |
Soja |
sc.60 kg |
46,35 |
43,36 |
-6,46 |
32,60 | |
Tomate p/ Mesa |
cx.22 kg |
30,70 |
38,80 |
26,39 |
0,59 | |
Trigo |
sc.60 kg |
26,64 |
27,88 |
4,64 |
16,72 | |
ANIMAL |
Carne Bovina |
15 kg |
99,58 |
101,28 |
1,71 |
33,60 |
Carne de Frango |
Kg |
2,00 |
2,03 |
1,63 |
32,64 | |
Carne Suína |
15 kg |
44,19 |
49,09 |
11,09 |
-3,49 | |
Leite B |
Litro |
0,77 |
0,79 |
2,60 |
1,36 | |
Leite C |
Litro |
0,68 |
0,68 |
-0,18 |
-6,48 | |
Ovos |
30 dz |
43,13 |
47,39 |
9,88 |
21,48 | |
|
No
mês de março, 13 produtos apresentaram elevação de preços (8 de origem vegetal e
5 de origem animal) num total de 18 produtos considerados, o que revela
realidade de convergência altista dos preços agropecuários neste primeiro
trimestre do ano, em plena colheita da principal safra nacional. Os produtos do
IqPR que registraram maiores altas no mês de março, em comparação com fevereiro
foram: feijão (47,19%), tomate (26,39%), banana nanica (22,72%), carne suína
(11,09%), ovos (9,88%), café (7,20%), laranja para mesa (6,92%), trigo (4,64%) e
milho (2,98%) (Tabela 2).
O
feijão, após a reversão da tendência de queda, se incorpora ao movimento
convergente de alta dos preços agropecuários com índices elevados, dado que
passou a conjuntura de oferta excedente de janeiro/fevereiro com preços muito
abaixo dos custos de produção, desestimulando plantios nas safras complementares
seguintes como a da seca. E o ritmo do aumento de preços, que já superaram os
custos de produção em março, mostra que a gangorra de preços não se mostra
interessante nem para lavradores nem para consumidores, uma vez que quando o
produtor tinha produto os preços estavam baixos e agora, com preços em alta não
tem produto.
O
tomate ainda não apresenta recuperação da oferta conjuntural numa safra menor
com reflexo de preços anteriores baixos e que ainda foi afetada pelas chuvas
continuadas geraram perdas de lavouras e de colheita, com impacto conjuntural no
abastecimento do produto, elevando expressivamente os preços. Isso numa
realidade de demanda aquecida e em que outros produtos da 'salada' também
mostram preços elevados.
A
banana nanica mostra variação sazonal padrão com aumento dos preços derivado do
incremento de consumo nas estações do ano caracterizadas pelas temperaturas
amenas (primavera e outono).
A
carne suína como produto diretamente substituto da carne bovina que se mantêm em
patamar elevado, entra no fluxo de convergência de alta dos agropecuários no
geral, recuperando-se uma vez que ainda se mostra com ganhos acumulados de
preços inferiores aos demais produtos animais.
Na
produção de ovos verifica-se a menor oferta num ajuste desproporcional em
decorrência da conjuntura anterior de preços baixos associada à pressão de
demanda, em especial pela agroindústria de massas alimentícias e de panificação
e confeitaria, com a proximidade da páscoa e consequente incremento do
consumo.
No
caso do café, os preços desta commodity se elevam devido às pressões da demanda
internacional e aos menores estoques mundiais. No mercado interno cresceu de
forma importante o consumo de café, inclusive de cafés de melhor qualidade, com
impacto nos preços.
Os
preços da laranja de mesa refletem a entressafra da laranja pêra do rio
ofertando menor quantidade de frutas, num momento de alta demanda de sucos
naturais. A proximidade da entrada da safra em poucos meses pode reverter essa
tendência de alta. Interessante notar esse descolamento conjuntural entre a
laranja de mesa e a laranja para indústria que apresentam sinais contrários no
comportamento dos preços.
O
trigo apresenta incremento na esteira da elevação dos preços internacionais das
principais commodities agropecuárias em ritmo superior ao patamar do câmbio,
produzindo efeitos inflacionários internos, já que parcela relevante do produto
necessário ao abastecimento interno advém de importações.
O
milho reflete as condições do mercado internacional do produto em que a oferta
projetada situa-se abaixo das expectativas da demanda e do mercado interno onde
a entrada de produto do plantio de verão ainda não ocorreu no volume necessário
para suprir a demanda do abastecimento interno.
No
mês de março um conjunto de 5 produtos apresentou queda (4 de origem vegetal e 1
de origem animal), com destaque para o amendoim (9,67%), soja (6,46%), laranja
para indústria (1,92%) e arroz (1,10%) (Tabela 2).
Para
o amendoim, a colheita da safra 2010/2011 que vem confirmando oferta superior ao
da safra anterior produz recuo dos preços mesmo num período em que as compras
pelas agroindústrias de confeitaria se elevam com a proximidade da páscoa e
festas juninas. Entretanto, as chuvas das semanas recentes afetaram a colheita
nas principais regiões produtoras, dado que o excesso de umidade atrasou o
trabalho, mas sem comprometer a previsão de safra maior.
A
soja mostra queda de preço, não sustentando os preços elevados da entrada do
ano. Este recuo acontece por fatores como a entrada da colheita brasileira que
possui importante participação no mercado internacional e pela previsão de
aumento da área plantada norte-americana. Registre-se, entretanto, que os
patamares de preço da soja se mostram ainda bastante
elevados.
No
arroz, a colheita da safra brasileira com entrada de maior volume de produto
indica o começo de ciclo de queda dos preços dos produtos cuja importação vem
sendo barateada pela valorização cambial e oferta significativa do mercado
internacional.
A
verificação do comportamento dos preços agropecuários nos últimos doze meses
mostra uma tendência crescente, tanto para os produtos animais como para os
vegetais (Figura 1). Os índices de preços agropecuários mostram-se 25,43%
acima do patamar verificado há doze meses, fruto da elevação tanto dos produtos
vegetais (24,49%) como animais (26,35%). Quando se exclui do cálculo a
cana-de-açúcar – cujos preços elevaram-se abaixo da média (12,49%)-, os preços
agropecuários apresentam alta ainda maior (34,89%), dado o incremento superior
verificado nos demais produtos vegetais exclusive a cana
(+42,00%).
Os
preços agropecuários evoluíram, portanto, em percentuais muito superiores aos
dos indicadores da inflação brasileira, como resultado da pressão de demanda,
derivado do crescimento da massa salarial e da conjuntura altista de importantes
preços internacionais. Os maiores preços agropecuários interno, ao derivarem
diretamente da demanda, não serão revertidos como políticas de juros, mas como
políticas de produção, uma vez que a taxa de juros afeta mais diretamente o
crédito, enquanto a aquisição de alimentos constitui-se num dispêndio
tradicionalmente pago a vista.
Figura 1. Evolução do Índice Acumulado Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Março de 2010 a Março de 2011.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).
As maiores altas de preços verificadas são praticamente todas derivadas da conjuntura internacional de preços mais altos associada à pressão de demanda interna pelo crescimento da massa salarial, com destaque para:
a) café (+91,33%) cujas cotações
internacionais elevaram-se no último ano após longo período de preços
baixos;
b) milho (+81,63%) onde também os
preços internacionais vem sendo mais favoráveis que o ano anterior de preços
muito baixos, com efeito também dos maiores preços do petróleo que viabiliza o
metanol;
c) laranja para indústria (+56,07%)
que reflete a valorização dos sucos cítricos nos principais mercados
importadores mundiais;
d) carne de frango (+32,64%) em que
a retomada das exportações vem sendo realizada em volume expressivo a preços que
compensam a valorização cambial e pela maior demanda interna;
e) soja (+ 32,60%) que se constitui
num produto multi-destinação indo desde a ração animal até ampla gama de
alimentos a base de soja, com os preços mais altos pelas pressões de demanda
maior dada a melhoria da economia mundial e a manutenção das aquisições chinesas
de soja em grão;
f) trigo (+16,72%), produto em que o
Brasil constitui-se num relevante importador, fazendo com que os preços internos
na entressafra nacional, ainda que cadentes, situem-se acima do verificado no
mesmo período do ano passado;
g) cana-de-açúcar (+12,49%) cujas
cotações internacionais ainda refletem o desajuste da oferta de produtores
relevantes como a Índia além da elevação da demanda de outros
mercados.
Há
outro grupo de produtos que refletem a pressão da demanda interna, dado o
expressivo aumento da massa salarial, ainda que alguns guardem relação com os
preços internacionais mais elevados de substitutos ou correspondem a mercados
complementares:
a) carne bovina (+33,60%): as altas
expressivas decorrem da redução da oferta de boi gordo para o abate, em virtude:
do elevado abate de fêmeas entre 2005 e 2007 e assim menor disponibilidade e o
encarecimento dos bezerros, garrotes e bois magros para reposição, redução nos
confinamentos, além da seca intensa na última entressafra. Por outro lado, o
consumo se manteve aquecido, tanto o interno como o externo, o que foi
determinante para o comportamento dos preços em 2010;
b) laranja para mesa (+25,77%) cuja
alta decorre da pressão de demanda interna com valores muito mais altos que os
da laranja para indústria, mas também deriva de que as agroindústrias ao fazerem
valer seus contratos para honrarem compromissos de exportação de suco, reduzem a
oferta interna numa realidade de safra menor, impactando os preços
internos;
c) ovos (+21,48%) em que as maiores
compras desse insumo pelas agroindústrias de massas alimentícias e de
panificação e confeitaria cuja demanda se elevou com reflexo nos preços
internos;
d) amendoim (+10,03%) cuja cotação
mais alta deriva da pressão de demanda, em especial da agroindústria de balas e
confeitos, na qual o amendoim vem sendo crescentemente insumo cada vez mais
relevante.
Finalmente, há um conjunto de
produtos em que a oferta conjuntural interna foi elevada, fazendo os preços
praticamente se manterem ou verificarem pequenas altas como o leite B(1,36%) e o
tomate para mesa (0,59%) e mesmo queda como o feijão (4,21%), o leite C (6,48%)
e a carne suína (3,49%). Em vários desses produtos repete-se como 'tragédia'
para a renda agropecuária os preços muito baixos de doze meses atrás como o
leite C e o feijão. Há ainda produtos em que a expressiva oferta sazonal
derrubou os preços atuais em percentuais elevados fazendo-os muito inferiores
aos do mesmo período do ano passado, sendo esse os casos do arroz (-18,92%) e da
banana nanica(-30,86%).
Verifique-se que mesmo dentre esses
produtos com queda ou patamares similares nos últimos dozes meses, estão vários
com elevações expressivas em março de 2011, que consiste no caso do feijão (+
47,19% no mês), tomate (+26,39% no mês), banana nanica (22,72% no mês), carne
suína (11,09% no mês). Enfim, a conjuntura mostra uma pressão altista dos preços
agropecuários numa condicionante em que para a maioria a alta dos preços
internacionais vem suplantando a valorização cambial, com reflexos internos que
não serão contidos com políticas de majoração dos juros mas sim de
oferta.
___________________________________________________
¹A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/03/2011 a 31/03/2011 e base = 01/02/2011 a 28/02/2011.
²Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573
Data de Publicação: 06/04/2011
Autor(es):
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
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