Preços Agropecuários encerram o mês de janeiro em alta de 1,55%

 

            O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1,2 aumentou 1,55% na quarta quadrissemana de janeiro. O IqPR-V (produtos de origem vegetal) registrou alta de 3,51% e o IqPR-A (produtos de origem animal) queda de 3,32% (Tabela 1).
 

            Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, devido a sua importância na ponderação dos produtos, o IqPR cai para 0,94%, mas o IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) eleva-se para 5,00%( (Tabela 1). Com isso, nota-se a considerável pressão dos preços dos produtos vegetais no período, como efeito relevante da temporada de chuvas torrenciais de janeiro.
 
 

Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Janeiro de 2011 e Acumulado nos Últimos 12 Meses.

 


  
 


            Os produtos do IqPR que registraram maiores altas na quarta quadrissemana de janeiro, em comparação com o período anterior foram: tomate (49,96%), café (11,46%), laranja para mesa (9,28%) e batata (7,91%) (Tabela 2).
 
 

            No caso do tomate, numa situação de demanda aquecida e safra menor, as chuvas continuadas geraram perdas de colheita, com impacto conjuntural no abastecimento do produto, elevando seus preços.
 

            No caso do café, os preços desta commodity se elevam devido às pressões da demanda internacional e doméstica e aos menores estoques, atingindo os níveis mais elevados dos últimos anos. Ademais, a redução em especial da safra colombiana abre espaço para vendas de café brasileiro de qualidade superior, elevando os preços médios no mercado interno de arábica, como o café paulista.
 

            Os preços da laranja de mesa refletem o impacto da demanda típica do verão sobre o consumo de sucos naturais, numa conjuntura em que a oferta está dada e dimensionada como safra de menor oferta. De outro lado, há o efeito das chuvas dos últimos dias que dificultaram a colheita e o transporte.
 

            Na batata, verifica-se a reversão da tendência de queda iniciando o ciclo de alta na gangorra de preços que ampliam as amplitudes das variações conjunturais quando se verifica grandes desajustes no fluxo produção-consumo. De condição de oferta favorável e em volumes expressivos passa-se nesta olerícola à crescente precificação da escassez relativa.
 

            Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços na quarta quadrissemana de janeiro foram: banana (13,50%), carne suína (9,99%), arroz (8,05) e amendoim (7,66%) (Tabela 2).
 

            No caso da banana o clima quente e chuvoso acelera a oferta ao mesmo tempo em que os consumidores passam a preferir as frutas de geladeira, também com oferta abundante e diversificada no verão, provocando a redução do preço do produto.
 

            A queda de preços da carne suína é influenciada pela retração do consumo, em relação ao período de festa do final do ano, comportamento típico nesta época do ano, associada ao incremento da oferta das demais carnes. Ademais, os preços das carnes subiram acentuadamente em 2010.
 

            No arroz, a colheita da safra brasileira com entrada de maior volume de produto indica o começo de ciclo de queda dos preços dos produtos cuja importação vem sendo barateada pela valorização cambial e oferta significativa do mercado internacional.
 

            Os preços do amendoim, que apresentaram forte recuperação durante o ano passado, estavam um pouco acima das médias de anos anteriores e agora retornam ao seu padrão, com a entrada da safra das águas.
 
 

Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Janeiro de 2011.

 





            Na quarta quadrissemana de janeiro de 2011, 9 produtos apresentaram alta de preços (todos de origem vegetal) e 10 apresentaram queda (4 de origem vegetal e 6 de origem animal). A redução no ritmo de aumento de preços do tomate e a queda de preços dos produtos de origem animal permitiram a redução do Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária de 1,73% na quadrissemana anterior para os atuais 1,55%.
 

          A análise dos preços agropecuários no período janeiro de 2010 a janeiro de 2011 revela uma tendência de crescimento persistente, sendo que os produtos animais revelam reversão da tendência mostrando queda no último mês. Os produtos vegetais tiveram os comportamentos altistas mais exacerbados, tendo se mostrado com ritmo de elevação significativo até março, queda em abril, nova alta até maio e após ter mostrado pequeno recuo até julho, desde quando retomam a escalada ascendente. Os produtos animais apresentaram persistente trajetória de aumento, embora em ritmo mais lento, durante todo o ano de 2010, caindo em janeiro de 2011 (Figura 1).
 

        Para a variação acumulada no período, os resultados registraram variações positivas para o IqPR de 36,94% e para o IqPR-V (vegetais) de 39,93%, já o IqPR-A (animais) terminou o período com variação de 27,85%. Desconsiderando a cana-de-açúcar do cálculo do índice que no período de janeiro de 2010 a janeiro de 2011 teve valorização de 15,43%, os índices apresentaram aumentos significativos: o IqPR fechou em 53,44% e o IqPR-V em 78,54%.
 

        A explicação para a elevação de preços agropecuários no período não pode ser atribuída à menor eficiência setorial. Duas linhas de explicações devem ser consideradas na análise desses aumentos de preços. A primeira, do lado da oferta, consiste no fato de que 2009 foi um ano de preços demasiadamente baixos, os menores dos últimos anos, para produtos relevantes na composição dos índices, como é o caso das laranjas.
 

 

Figura 1. Evolução do Índice Acumulado Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Janeiro de 2010 a Janeiro de 2011.








            Nos doze meses em análise, tanto a laranja para indústria (98,35%) como para a laranja para consumo in natura (123,50%) revela-se significativa recuperação de seus preços (Tabela 2). Em janeiro de 2010 os preços recebidos pelos produtores de laranja estiveram entre os mais baixos em uma década, levando a conflitos exacerbados dos citricultores com as agroindústrias. Mas se em lavouras perenes como os pomares o ajuste se dá num prazo mínimo de doze meses, em lavouras temporárias isso se dá em questão de meses. Esse consiste no preço do feijão.
 

            Merecem destaques os incrementos de preços, nos últimos doze meses, do algodão que sequer foi possível obter cotação ao nível de produtor paulista nos últimos meses como reflexo da significativa queda dos estoques internacionais em plena entressafra brasileira, do tomate (74,36%)- fortemente afetado pelas chuvas- da banana nanica (63,88%)- fruta que recuperou-se de situação de preços baixos do início de 2010-, do café (55,79%) – que vem recuperando preços no mercado internacional após período de preços baixos-, do milho (51,27%) – fato que também resulta de preços muito baixos em 2009-do amendoim (39,81%), , do feijão (36,92%), da carne bovina (36,01%), da carne de frango (25,48%), da soja (18,06%), dos ovos (16,13%), da cana-de-acúcar (15,43%) – reflexo dos preços internacionais do açúcar que elevou o percentual de moagem para esse fim e provocou a atual disparada dos preços do álcool combustível e da carne suína (13,56%).
 

            Mas existem apenas dois preços conjunturalmente menores em janeiro de 2011 quando comparados com janeiro de 2010, como nos casos da batata (-47,06%)- olerícola de elevada perecibilidade onde se manifesta gangorra de preços de enorme amplitude de curto prazo e do arroz (18,58%).
 

            Mas há que se considerar uma segunda linha de explicação, do lado da demanda. Os preços agropecuários vêem mostrando firme tendência de aumento desde setembro de 2009. Esse movimento foi acirrado após janeiro de 2010 (Figura 1). Em função do ritmo do crescimento econômico verificado em 2010, com aumento da massa salarial – pelo efeito convergente de redução do desemprego e maior nível do salário médio- há uma significativa e persistente pressão da procura. Mas essa pressão que provoca alta dos preços na entressafra da produção agropecuária, não sustenta esses patamares de preços no início da colheita da safra das águas, que para alguns produtos como o feijão ocorre em novembro, mas para outros se estenderá até março de 2011.
 

            De qualquer maneira, para muitos produtos a conjuntura de janeiro de 2011 mostra a formação de expectativas que indicam quedas de preços, iniciando o processo de reversão das altas de 2010, em função da entrada da safra de produtos vegetais em curso e da maior oferta de produtos animais (carnes, ovos e leite) que reduziu todos os preços das proteínas animais no último mês de janeiro.
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¹A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/01/2011 a 31/01/2011 e base = 01/12/2010 a 31/12/2010.

²Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573

 

 


Data de Publicação: 03/02/2011

Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
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