Artigos
Preços Agropecuários: encerram o mês de Maio com alta de 8,66%
O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1,2 encerrou o mês de Maio de 2010 com variação positiva de 8,66%.O IqPR-V (produtos de origem vegetal) registrou alta de 12,18%, enquanto que o IqPR-A (produtos de origem animal) encerrou o mês com variação negativa de 0,10 (Tabela 1). Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, devido a sua importância na ponderação dos produtos, os índices IqPR e IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) terminaram o mês positivamente fechando com 6,78% e 13,33%, respectivamente (Tabela 1).
Para a variação dos índices acumulados nos últimos 12 meses, os resultados mostram expressivas variações positivas para o IqPR de 29,76% e para o IqPR-V (vegetais) de 42,27%. Para o IqPR-A (animais) o acumulado fechou positivamente em 1,45%
Desconsiderando a cana-de-açúcar no cálculo acumulado dos índices, o IqPR fecha em 28,59% e o IqPR-V tem significativa alta e encerra em 56,99% (Tabela 1), puxados principalmente pelos preços do feijão e do amendoim
que de Maio de 2009 a Maio de 2010 subiram 92,29% e 81,32%, respectivamente (Tabela 2).
Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Maio de 2010.
Os produtos do IqPR que registraram as maiores altas neste mês foram: laranja para indústria (68,80%), feijão (24,64%), cana-de-açúcar (11,34%), amendoim (9,05%) e leite tipo C (5,52%). (Tabela 2).
Na laranja para indústria, os preços vêem sendo impulsionados pelos elevados valores alcançados pela laranja de mesa. Os preços da laranja para mesa chegaram a ser 41,1% maiores que os da laranja para indústria, estimulando a seleção das melhores frutas na esteira das usinas, e permitindo à agroindústria ocupar espaço no mercado de mesa, impulsionando os preços nesse mercado para baixo. A tendência é de redução dessa diferença de preços.
Os preços recebidos pelos produtores paulistas de feijão continuam em alta. A intervenção do governo federal, que já havia sido ineficaz na sustentação da rentabilidade no ciclo de baixa do ano de 2009, agora fracassa na tentativa de conter o ciclo de alta, face à insignificância das quantidades compradas nos leilões. De qualquer maneira, a escalada altista prossegue até que as novas safras ofertem produto novo em patamares compatíveis com a procura.
Para a cana-de-açúcar, embora o preço do ATR mensal tenha recuado neste mês, o preço do ATR acumulado (que é o valor que remunera os produtores) de maio ficou maior do que o acumulado de abril. Sendo assim, ainda não se refletiram nessas cotações os impactos da queda dos preços do açúcar (no mercado internacional e interno) e do recuo dos preços do etanol com a entrada da safra.
No caso do amendoim, a seqüência dos preços mais altos deriva dos impactos da redução de 22,9% da safra nacional e diminuição de quase 25% da área plantada da safra das águas, devido principalmente à menor disponibilidade das áreas de renovação de canaviais. Dadas as ocorrências até aqui verificadas, gerando escassez de oferta e a não existência de safra intermediária, as expectativas de preços indicam alta, inclusive porque o aquecimento da demanda, em função das festas juninas, deve manter os preços elevados.
Para os leites B e C a redução na produção, em virtude da diminuição da qualidade dos pastos, em função do clima mais seco e temperaturas mais baixas, continua impulsionando a alta de preços. Para os próximos meses o movimento altista pode perder força, já que os setores atacadista e varejista (que vinham subindo os preços) não estão com mais margem para elevação dos preços dos produtos lácteos.
Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços em Maio foram: banana nanica (16,32%), tomate para mesa (11,75%), laranja para mesa (6,97%), algodão (3,81%) e carne de bovina (1,73%) (Tabela 2).
A continuidade da queda do preço do tomate reflete a entrada dos novos plantios. Os altos preços do início de março estimularam a ampliação da produção levando, na gangorra de preços, a novo ciclo de queda acentuada de preços. Outros fatores que contribuíram para a conjuntura de preços cadentes foram a diminuição do consumo devido ao alto preço no mercado varejista e a rápida maturação dos tomateiros, que se deu nas últimas duas semanas, que levou a uma rápida elevação da oferta.
Na banana, o recuo dos preços decorre do início da normalização dos fluxos e da resistência dos consumidores que passaram a comprar menos dessa fruta em função da conjunção de preços altos para frutos de qualidade inferior. Com as baixas temperaturas o consumidor opta por frutas concorrentes em detrimento da banana.
Na laranja de mesa, a queda de preço é devida a redução do consumo de sucos naturais com o fim do verão e à pressão da entrada de outras frutas para consumo direto, inclusive cítricas como as tangerinas, maçã e caqui. Ressalte-se, que neste mês os preços da laranja de mesa ainda estão 11% maiores que os de laranja para indústria, diferença que deve se estreitar nos próximos movimentos de preços.
No período analisado, 12 produtos apresentaram alta de preços (8 origem vegetal e 4 de origem animal) e 7 apresentaram queda (5 vegetal e 2 animal).
Em relação ao mesmo período de 2009, nota-se que os preços agropecuários mostram comportamentos distintos. Nos grãos, as commodities internacionais mostram queda: soja (27,26%), trigo (25,81%) e milho (17,65%), derivado não apenas da oferta das principais nações produtoras, mas também da estagnação da demanda com a redução das compras européias (ainda em crise financeira) e expectativas de menores compras chinesas de produtos brasileiros.
Essa mesma situação impacta outro relevante produto da pauta de exportações, representada pela carne de frango (-12,95%) que pela queda dos preços internos dessa proteína carrega os preços do ovo (-8,51%). Similar comportamento do mercado internacional afeta os preços do arroz, produto que o Brasil importa, com reflexo nos preços internos (-4,66%).
Das demais mercadorias importantes na pauta das exportações brasileiras, a cana-de-açúcar continua seu movimento ascendente (+30,56%) sendo que na carne bovina há repetição dos patamares do ano anterior (+0,91%).
Nos demais produtos a realidade consiste de elevações expressivas em relação a 2009, com maior expressão para o feijão (92,29%) e o amendoim (81,32%). Também tiveram altas elevadas o tomate para mesa (42,55%), a carne suína (32,51%), o algodão (31,90%), a laranja de mesa (29,20%), o leite C (16,29%), o leite B (13,57%), o café (7,81%) e a banana nanica (7,05%). Em todos eles os preços em 2009 estiveram muito baixos, o que para a maioria dos produtos, em especial nos de safra anual, houve considerável redução do plantio e da oferta.
_______________________________________________________________________
¹ A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/05/2010 a 31/05/2010 e base = 01/04/2010 a 30/04/2010.
² Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573
Data de Publicação: 07/06/2010
Autor(es):
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor