Uva Niagara no Estado de São Paulo na Safra 2002/2003

            As expectativas dos produtores paulistas de uva comum de mesa, com relação à evolucão da produtividade e da rentabilidade da cultura na safra 2002/2003, efetivamente se concretizaram, tendo ocorrido queda na produção e elevação dos preços recebidos pelo produto.
            A produção da safra paulista de uva em 2002/2003 situou-se em 176,7 mil toneladas (Tabela 1), com acentuada redução (23,8%) em relação à safra 2001/2002 (231,8 mil toneladas), em razão principalmente das condições climáticas desfavoráveis no segundo semestre de 2002. A maior queda na produção ocorreu na uva comum para mesa (33,5%), que caiu de 126,7 para 84,3 mil toneladas, tendo-se variação menor (13,3%) na uva fina para mesa (de 102,5 para 88,9 mil t). A produção de uva para indústria, que tem pequena participação no total produzido, aumentou 34,6% (de 2,6 para 3,5 mil toneladas).

Tabela 1 - Área, Pés, Produção e Produtividade de Uva (Fina e Comum para Mesa e para Indústria) no Estado de São Paulo, Safra 2002/2003.

.
Pés/ha
Área

(ha)

Número de Pés

(em milhão)

Produção

(1.000t)

Produtividade
Novos 
Adultos
kg/ha
kg/pé
Fina para Mesa 1
1.000
3.247
0,173
3,074
88,9
28.934
28,9
Comum p/Mesa 2
5.000
6.877
0,516
33,871
84,3
12.440
2,5
Para Indústria 2
5.000
145
0,008
0,715
3,5
24.476
4,9
Total
-
10.269
0,697
37,660
176,7
-
1 4º Levantamento, abril/2003.
2 Levantamento final, abril/2003.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coord. de Assistência Técnica Integral.

            A região do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Campinas é a grande produtora de uva comum no Estado de São Paulo, e na safra 2002/2003 respondeu por 80,2% do total produzido. Predomina a variedade Niagara, e nesse EDR os principais municípios produtores são Jundiaí, Indaiatuba, Itupeva, Louveira, Campinas, Vinhedo e Valinhos. No Estado, seguem-se em importância as produções dos EDRs de Sorocaba (13,1%) e Bragança Paulista (4,8%).
            A colheita da safra paulista de uva Niagara concentra-se entre meados de novembro e de fevereiro, e na safra anterior (2001/2002) as condições climáticas tinham sido favoráveis à produção, mas desfavoráveis à rentabilidade e liquidez dos produtores. A produtividade foi elevada e ocorreu uma grande produção, entretanto, houve também uma concentração da colheita no mês de dezembro ainda maior que o normal, resultando em baixos preços para o produto. Nessa safra, os preços recebidos pelos produtores situaram-se em torno de R$4,50 por caixa de 6,0kg (R$0,75/kg), inferiores em cerca de 20% aos preços recebidos nas duas safras anteriores.
            A produção paulista de uva Niagara é realizada principalmente em pequenas propriedades, e a cultura é geralmente conduzida através de parceria (entre o proprietário e um casal de meeiros, para cada hectare de uva em produção). Nas estimativas dos custos de produção e nas indicações da liquidez e rentabilidade, essa especificidade do sistema de produção é elemento importante a ser considerado.
            Um indicador da rentabilidade da atividade é a estrutura de custo de produção denominada Custo Operacional Total (COT), tradicionalmente utilizada pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), que engloba despesas diretas e indiretas e não inclui a retribuição ao fator terra, a remuneração ao empresário e a remuneração ao capital fixo das construções e benfeitorias. Quanto aos dias trabalhados pelos meeiros, que não envolvem desembolsos pelos proprietários, no COT imputam-se os seus custos de oportunidade, ou seja, inclui-se como custo da mão-de-obra os dias trabalhados pelos meeiros considerando-se o valor da diária na região.
            O COT estimado para a safra 2002/2003 foi de R$5,11 por caixa de 6,0kg (R$0,85/kg)1, enquanto que o preço recebido pelo produtor situou-se em torno de R$ 7,20 por caixa (R$1,20/kg). Ao contrário dos resultados negativos na safra anterior (2001/2002), a receita da atividade foi 41,1% superior ao COT, com indicações para a safra 2002/2203 de rentabilidade significativa e condizente com os elevados riscos, exigência de mão-de-obra qualificada e especificidades da viticultura.
            Nas avaliações de liquidez e das remunerações dos proprietários e dos meeiro, um indicador mais apropriado é a Despesa, que envolve apenas os desembolsos efetivos no transcorrer da safra e segue as normas dos usuais contratos vigentes entre os proprietários e meeiros. A Despesa diferencia-se do COT por não incluir os custos de mão-de-obra do meeiro e a depreciação referente à formação do vinhedo e de máquinas e equipamentos.
            A Despesa estimada para a safra 2002/2003 foi de R$3,34 por caixa de 6,0kg (R$0,56/kg)1, tendo-se portanto que a receita foi 115,6% superior aos desembolsos, o que possibilitou amenizar as dificuldades financeiras de um grande número de pequenos proprietários e meeiros, relacionadas com os resultados negativos da safra anterior.
            Na viticultura, é usual após uma safra com elevada produção os dois anos seguintes apresentarem safras menores, devido sobrecarga e esgotamento da planta, o que também contribuiu para a acentuada queda na produção da safra 2002/2003. Dado essa característica da cultura, para a próxima safra 2003/2004 de uva comum para mesa, com produção concentrada no final do corrente ano e início do próximo ano, a previsão dos produtores é de colheita maior que a registrada na última safra, mas até 20% menor que a de 2001/2002. Nesse caso, os produtores esperam que esse nível de produção, paralelamente aos prováveis aumentos nos custos relacionados com a evolução da inflação, possa contribuir para que os preços recebidos pelos produtores se situem em torno de R$8,00 por caixa de 6,0kg e possibilitem condições de rentabilidade semelhantes às da safra 2002/2003, de maneira a assegurar a estabilidade na renda de pequenos proprietários e meeiros.

1Estimativa de Custo de Produção e de Despesa da Cultura de Uva Niagara no Estado de São Paulo, Safra 2002/2003 (www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=235), de dezembro de 2002 


Data de Publicação: 01/07/2003

Autor(es): Arthur Antonio Ghilardi (arthurghi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Lucia Maia (mlmaia@iac.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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