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Café: Formam-se Expectativas Favoráveis Para O Quarto Trimestre
                     Mercado             As cotações do café em diferentes mercados, como os de Nova Iorque (arábica - Contrato C – 2ª posição, arábica brasileiro - OIC), Londres (robusta – 2a posição), BM&F (arábica – 2a posição) e recebido pelo produtor (IEA), para o 
arábica, e o de Londres para o robusta, em dólares por saca de 60 quilos 
beneficiada, no período dos últimos 21 meses, chegaram aos menores níveis no 
primeiro semestre e indicam que, a partir de agosto, se iniciou mudança de 
tendência, com pequena recuperação, especialmente para os arábicas brasileiros 
em Nova Iorque e os robustas no mercado de Londres (gráficos 1 e 2). 
            
Essa mudança de tendência está associada à redução da oferta de robusta no 
mercado internacional, especialmente originado do Vietnã, e ao término da 
colheita do café brasileiro, eliminando as especulações sobre o tamanho da safra 
brasileira recém colhida. A eliminação de tais especulações foi também apoiada 
pela política de intervenção no mercado e pela expectativa de que a próxima 
safra mundial, inclusive a brasileira, seja inferior à demanda total 
internacional de café. O fato de o produto brasileiro se tornar o único 
disponível nos próximos meses, e a estratégia dos produtores de travar o mercado 
caso não recebam maiores preços, deverá manter a alta observada. Isso é 
sinalizado, no momento, pelo fato de as cotações dos arábicas brasileiros em 
Nova Iorque (OIC) se situarem nos mesmos níveis do Contrato C para dezembro de 
2002.  
Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes 
mercados, 
Janeiro de 2001 a 
Setembro de 2002 
Obs: Set. até 11/09/2002. 
Fonte: Gazeta Mercantil e Instituto de Economia Agrícola. 
 
            Uma 
comparação das médias trimestrais das diferentes cotações indica recuperação 
desde o quarto trimestre de 2001, tanto para o café arábica quanto para o 
robusta, embora o robusta na bolsa de Londres tenha apresentado, relativamente 
ao arábica, maior recuperação. Esses dados mostram o início de uma certa 
estabilidade anualizada a partir de agosto do ano passado, com tendência de 
manutenção no presente ano. Todavia, os menores preços em dólares, recebidos 
pelos produtores paulistas, refletem a incerteza sobre o câmbio brasileiro e o 
excesso de oferta com o final das colheitas, embora sinalizando certa 
recuperação nas últimas semanas. 
            
A instabilidade do câmbio brasileiro tem levado a um aumento do diferencial das 
cotações no mercado futuro na BM&F em relação ao de Nova Iorque. Essa 
diferença, que chegou a US$ -9,71 por saca em dezembro de 2001, cresceu ao longo 
dos meses para US$ -23,39/sc em setembro de 2002, refletindo-se nos preços aos 
produtores brasileiros.  
Gráfico 2 - Cotações médias trimestrais do café em 
diferentes mercados, 
Janeiro 
de 2001 a Setembro de 2002 
3.º** = preço médio até 11 de 
setembro de 2002. 
Fonte: Gazeta Mercantil e Instituto de 
Economia Agrícola  
Leilões de contratos de opção para café: uma análise preliminar
            Pouco 
antes da realização do primeiro leilão de contratos de opção de venda para café, 
divulgou-se análise q    ue pontuava algumas questões críticas 
para a implementação dessa política. Questionou-se, inclusive, a oportunidade da 
criação dos contratos de opções, sendo interpretado como um retorno da esfera 
governamental às aquisições de café, algo que nos parecia fora de cogitação 
diante do reconhecido quadro de crise fiscal do Estado. 
            Efetuados os três primeiros leilões de contratos de opção para arábica e robusta, nota-se que mais de 80% dos contratos foram adquiridos, revelando amplo sucesso para a experiência em termos de demanda pelo produto financeiro. No caso do arábica, a política foi eficiente em decorrência dos preços fixados para o produto de R$ 130,00/sc de café beneficiado com a qualidade definida pela portaria da CONAB para a entrega em dezembro (mais R$ 3,00 de reembolso pela sacaria, classificação e Funrural). Quanto ao robusta, a demanda de contratos foi frustrante pela mesma razão, ou seja, os preços fixados para dezembro situaram-se próximos daquilo que o mercado praticava no mercado spot, gerando desinteresse pelo produto. Acredita-se 
que, para os próximos leilões, poderá haver uma relativa diminuição da demanda 
pelos contratos sem que se perceba nisso insucesso da experiência. 
            
É perfeitamente aceitável a situação em que o governo sinaliza a disposição de 
adquirir café e o mercado prefere não exercer tal direito. Um maior percentual 
de sobra de contratos nos próximos leilões pode significar até que o mercado 
(nacional e internacional) esteja construindo um cenário futuro de escassez do 
produto, o que se poderá traduzir em cotações ascendentes ainda no curto prazo 
(próximos três meses). 
            
Razão adicional para o sucesso parcial da experiência constitui-se na relativa 
quebra do mecanismo convencional de formação das cotações para o mercado 
interno. Normalmente, o trader/torrefador internacional definia seu preço CIF 
porto de destino e o exportador brasileiro contabilizava todas as suas despesas 
mais a margem de rentabilidade para o negócio e fixava uma cotação para as suas 
compras junto aos cafeicultores. A partir do momento que o governo fixou o preço 
em R$ 130,00, o mercado de café para os exportadores ficou travado, demandando 
uma negociação com seus clientes internacionais visando fixar novo preço que lhe 
dê margem para atuar na compra de café. Alguns cafeicultores e gerentes de 
cooperativa vêm informando que é crescente o ágio pago pelos exportadores frente 
às cotações do mercado, respaldando a hipótese formulada. 
            
Confirmada essa nova postura dos exportadores, espera-se que as cotações 
mantenham a tendência de alta no mercado interno que poderá ser impulsionada por 
cenários de escassez de produto para os próximos anos. Assim, muito 
provavelmente, poucos serão os cafeicultores, donos de contratos de opção, que 
exercerão seu direito de venda para o governo, pois os preços internos estarão 
em consistente rota de ascensão.  
Aumentar consumo, será uma solução viável?
            O mapa 
de consumo de café indica que cerca de 20% da população mundial consome a 
bebida, conduzindo alguns analistas do mercado a concluir que a solução da atual 
crise de preços, devido ao excesso de produção, residiria no aumento do número 
de consumidores da bebida. 
            
Nenhum daqueles que se encontram envolvidos nesse agronegócio poderia se 
posicionar de modo contrário ao aumento da demanda de café no mundo. Apenas no 
países produtores esse incremento poderia ser de pelo menos 15 milhões de sacas, 
caso desenvolvessem um programa de incentivo ao consumo como aquele que tem sido 
feito no Brasil. A baixa renda per capita nesses países não impede um maior 
consumo, haja vista o caso da Etiópia em que, mesmo sendo um país de extrema 
pobreza, apresenta uma proporção de consumo em relação à produção superior à 
observada no Brasil. 
            
Poderia ser incrementado substancialmente o consumo nos países do extremo 
oriente e Europa oriental, como também nos mercados considerados já saturados 
(Estados Unidos e muitos países da Europa central e ocidental). Questiona-se se 
essa estagnação não estaria mais relacionada com a falta de estratégias mais 
adequadas para revitalizar esses mercados (inclusive com novos produtos) do que 
com a saturação propriamente dita; ou talvez com a estrutura de industrialização 
e distribuição nos países consumidores, cada vez mais concentrada, em que os 
ganhos na atividade se relacionam mais com o poder de impor preços do que com a 
ampliação do volume de vendas. 
            
Para os habitantes de faixas de renda mais elevada dos países desenvolvidos, 
existe o desafio de se criar outras formas de consumo de café, transformando-o 
se possível em produto de maior elasticidade-renda e atraindo, 
concomitantemente, os jovens para o consumo da bebida. 
            
Essas são algumas razões pelas quais acreditamos na existência de espaços para o 
aumento mundial do consumo de café. Entretanto, discursos sobre medidas de 
estímulo ao aumento da demanda, como principal alternativa para se acabar com o 
atual desequilíbrio entre oferta e procura, são algo equivocado. Caso o consumo 
aumentasse dos atuais 106-108 milhões de sacas para 130-140 milhões, por 
exemplo, teríamos uma oferta que na média se ajustaria em torno desse novo 
patamar. Nessa situação, o valor médio significaria aumento na produção para 
160-170 milhões de sacas em certos anos, alternando com períodos de produção bem 
abaixo, a fim de que na 'média' a oferta ficasse próxima de 130-140 milhões. 
            
Para se atenuar o desequilíbrio entre demanda e oferta de café, devem ser 
tomadas medidas principalmente na esfera da produção. Necessita-se de um mínimo 
de planejamento estratégico, desenhado pelo setor privado, baseando-se em dados 
e informações confiáveis. O que não podemos é aceitar a repetição da situação 
ocorrida entre 1997 e 1998, quando os preços do café estavam cotados a US$ 
200/saca e algumas lideranças apregoavam que havia perspectiva de alcançar os 
US$ 500/saca! Tal colocação provocou dois efeitos perversos: muitos produtores 
passaram a reter o produto na expectativa de poder comercializá-lo a preços 
superiores, perdendo assim a oportunidade de se capitalizarem em condições mais 
favoráveis (muitos inclusive incorrendo em prejuízos irreparáveis), e, muito 
mais prejudicial, estimulou-se o plantio de forma desmesurada, provocando 
acentuado desequilíbrio entre oferta e demanda, como o que estamos 
vivendo! 
   
Data de Publicação: 17/09/2002
                Autor(es): 
                Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              
                    
                        