Artigos
Breve perfil dos municípios rurais do Estado de São Paulo
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Municípios, um indicador1 que permite analisar o desempenho econômico nos
níveis regional e local, foi elaborado pela Fundação Sistema Estadual de Análise
de Dados (Fundação SEADE), com apoio da Secretaria de Economia e Planejamento do
Estado de São Paulo. Com isso, possibilitará definição de metas de
desenvolvimento e a avaliação do cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Atividade Principal e IPRS Estudo
preliminar levantou a participação relativa dos VA das três atividades nos
municípios. Apesar do forte peso da atividade industrial na economia do Estado,
o estudo mostra que serviços e agropecuária representavam metade ou mais do VA
(aproximadamente 41% e 40%, respectivamente dos municípios do Estado de São
Paulo), enquanto a indústria aparecia como atividade principal em cerca de 19%
dos municípios (tabela 1 e figura 1). Tabela 1 - Municípios por atividade principal, segundo
Valor Adicionado Total, Estado de São Paulo, 2002
Recentemente, foram disponibilizadas informações sobre o Valor Adicionado (VA)
do Estado de São Paulo referente ao ano de 2002. Tais informações mostraram uma
forte participação da Indústria (VAI) e dos Serviços (VAS), respectivamente de
41% e 51,5%, na composição do total do VA estadual.
| | Participação no Valor Adicionado
Total (%) | |
Agropecuária | | 40,31 | 7,16 |
Indústria | | 18,60 | 31,94 |
Serviços | | 41,09 | 60,90 |
Total | | 100,00 | 100,00 |
Fonte : Elaborada pelos autores com base em Fundação SEADE(2005)
Figura 1 – Distribuição dos municípios, segundo maior Valor Adicionado, 2002 Fonte: Elaborada pelos autores com base em Fundação SEADE(2005)
A agropecuária é a atividade principal em 260 municípios do Estado, que têm como característica indicadores sociais, medidos pelo Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS)2, comparativamente mais desfavoráveis que os
levantados nas áreas onde a indústria é a atividade principal. Dada a parcela
significativa do número de municípios agropecuários, os indicadores sociais para
o Estado acompanham a mesma tendência.
Prevalecem nessas áreas, segundo a classificação do IPRS , os grupos 3 e 4 que
têm como principal característica o baixo nível de riqueza devido ao fraco
dinamismo econômico nas regiões (tabela 2). Este é o principal gargalo em tais
regiões, cuja população, principalmente a mais jovem, é forçada a migrar para os
centros urbanos, para buscar maiores oportunidades de sobrevivência.
Tabela 2 – Participação percentual dos municípios no IPRS
por atividade econômica, Estado de São Paulo, 2002
| | ||||
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | |
Agropecuária | 4,23 | 3,08 | 43,46 | 34,62 | 14,62 |
Indústria | 29,17 | 26,67 | 17,50 | 15,83 | 10,83 |
Serviços | 9,43 | 15,47 | 25,28 | 29,81 | 20,00 |
Total | 11,01 | 12,56 | 31,16 | 29,15 | 16,12 |
Nesta
classificação, observou-se que, segundo indicadores do SEADE, nem sempre o maior
valor do PIB municipal está associado às melhores condições sociais. Como
exemplo, Ipuã, que gerou R$ 154 milhões de PIB em 2002, situava-se no grupo 1 da
classificação do IPRS, proporcionando uma das melhores condições de vida do
Estado à sua população. No outro extremo, Itapetininga, que gerou oito vezes
mais (R$ 1,250 bilhão), situava-se no grupo 5, oferecendo baixos níveis de
assistência para a população local. Ambos têm a agropecuária como atividade
principal na economia municipal.
Embora o PIB municipal possa indicar o grau de geração de riqueza, ele é
insuficiente para apontar a sua distribuição relativa, como a renda per capita.
Nestes mesmos municípios, verifica-se que em Ipuã a renda per capita em 2002 foi
quase 25% maior (R$12.590,00) do que a de Itapetininga (R$9.444,00), apesar de o
PIB municipal ser consideravelmente menor. Isto justifica, pelo menos em parte,
as diferenças nas condições de vida nessas localidades.
Dos dez municípios com maior PIB per capita do Estado, metade tem economia
predominantemente agropecuária (Altair, Gavião Peixoto, Motuca, Colombia e Onda
Verde), três têm a indústria como principal atividade (Sandovalina, Ourooeste e
Luisiana) e em dois municípios (Cordeirópolis e Paulínea) o setor de serviços
prevalece. Paulínea apresenta a maior renda per capita (R$85.504,00) no Estado
de São Paulo.
Com exceção destes dois últimos municípios que se situam na região de Campinas,
os demais municípios localizam-se, do ponto de vista geográfico, distantes do
circuito que inclui os maiores PIBs do Estado. Mas apesar da alta renda per
capita dois dos municípios ainda apresentam condições de vida insatisfatórias
para os seus habitantes (tabela 3).
Ao analisar os dados dos dez maiores PIBs per capita e a classificação dos
municípios paulistas por grupo do IPRS, é possível concluir que a atividade
agropecuária não pode ser relacionada a piores condições de vida. Dos cinco
municípios classificados, três situam-se no grupo 1 do IPRS, um no grupo 3 -
apresentam bons indicadores sociais apesar de caracterizados como municípios com
nível de riqueza baixo - e por fim um no grupo 4, com baixos indicadores
sociais.
Tabela 3 – Municípios com maior PIB per capita, Estado de
São Paulo, 2002
| | | | PIB per
capita | Densidade demográfica
(hab/km2) | Taxa de
Urbanização |
Paulínia | | | 4.747,27 | 85.504 | 378,26 | 99,02 |
Luisiania | | | 587,57 | 77.937 | 12,15 | 92,36 |
Ouroeste | | | 364,06 | 54.533 | 23,17 | 76,78 |
Onda Verde | | | 179,07 | 50.006 | 14,62 | 70,98 |
Colômbia | | | 291,62 | 47.441 | 8,41 | 71,44 |
Cordeirópolis | | | 881,11 | 46.840 | 151,35 | 92,17 |
Motuca | | | 185,56 | 45.987 | 17,2 | 65,67 |
Gavião Peixoto | | | 179,93 | 43.874 | 17,56 | 68,68 |
Altair | | | 154,88 | 42.868 | 10,64 | 74,11 |
Sandovalina | | | 140,66 | 42.807 | 6,09 | 59,88 |
Os
municípios dependentes basicamente dos serviços apresentam, em geral, os mais
baixos valores per capita. São áreas em que as atividades industrial e
agropecuária não possuem destaque e, em geral, são dependentes dos serviços
públicos ou de transferência de recursos.
Os 10 municípios com os menores PIBs per capita do Estado têm como atividade
principal o setor de serviços. Estes se concentram basicamente no Vale do
Ribeira (Barra do Turvo, cuja renda per capita R$ 2.197,00 é a menor do Estado,
Iporanga, Cananéia, Miracatu e Barra do Chapéu) e no Vale do Paraíba (Cunha,
Piquete e Queluz). Encontraram-se também municípios da região de Marília
(Alvilândia e Álvaro de Carvalho) e o município de Francisco Morato que pertence
à Região Metropolitana de São Paulo (Tabela 4).
Tabela 4 – Municípios com menor PIB per capita, Estado de
São Paulo, 2002
MUNICÍPIO | | | PIB(milhões
R$) | PIB per
capita | Densidade demográfica
(hab/km2) | Taxa de
Urbanização |
Barra do Turvo | | | 18,43 | 2.197 | 8,25 | 37,86 |
Francisco Morato | | | 349,83 | 2.363 | 3.199,22 | 99,89 |
Iporanga | | | 12,54 | 2.757 | 3,57 | 45,85 |
Cunha | | | 68,75 | 2.991 | 17,43 | 48,68 |
Piquete | | | 46,07 | 3.005 | 89,9 | 93,54 |
Cananéia | | | 39,4 | 3.023 | 10,16 | 83,92 |
Miracatu | | | 73,36 | 3.140 | 23,5 | 50,55 |
Álvaro de Carvalho | | | 13,93 | 3.173 | 27,25 | 63,6 |
Barra do Chapéu | | | 15,33 | 3.176 | 12,08 | 30,86 |
Queluz | | | 30,69 | 3.226 | 38,74 | 86,56 |
Estes
municípios oferecem condições sociais bastante insatisfatórias à população, dado
que 70% deles situam-se entre os grupos 4 e 5. Ou seja, apresentam baixo nível
de riqueza e de indicadores sociais.
Não há diferença significativa na renda per capita da maior parte dos municípios
agropecuários e industriais, com exceção, é claro, das grandes metrópoles. Do
total de municípios agrícolas, 60% têm renda per capita acima de R$10.000,00,
enquanto nas áreas industrias representam 76%.
Nos 260 municípios com maior participação da atividade agropecuária, 95% têm taxa de urbanização maior do que 50%. Pela classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)4 são
consideradas regiões urbanas, para efeito de políticas públicas, e portanto
recebem tratamento similar ao recebido pela região metropolitana de São Paulo.
Parte considerável desses municípios, cuja população na grande maioria mora nas
cidades e usufrui das facilidades por elas proporcionadas, apresenta
características e dinâmicas distintas das dos grandes centros urbanos. Com
certeza, as atividades nessas cidades dependem, em grande parte, da renda
agropecuária. A maior parte da mão-de-obra está empregada em atividades no meio
rural, em agroindústrias ou serviços em geral ligados à agropecuária ou ainda
complementa sua renda com atividades não-agrícolas executadas no próprio campo.
Para concluir, ressalte-se que cada município tem suas peculiaridades, condicionadas pelas atividades econômicas e pelas características sócio-econômicas e culturais. Assim, todas as diferenças devem ser consideradas visando a um aprimoramento, tanto na incorporação de novas ações de políticas públicas quanto na avaliação e monitoramento das já existentes.5
_______________________________
1A descrição da metodologia para a consolidação do PIB Municipal está detalhada no site da Fundação Seade ( http://www.seade.gov.br). O núcleo do método consiste basicamente, em estimar o Valor Adicionado (VA) Municipal rateando-o entre os municípios as principais atividades econômicas (agropecuária, indústria e serviços). Este é calculado nas Contas Regionais do Brasil, fazendo-se uso de indicadores identificados como comuns a todos os estados brasileiros. Após esse cálculo deduz-se o Dummy Financeiro utilizando-se a estrutura de rateio para a atividade Serviços Financeiros e por fim soma-se a as partições dos impostos federais, estaduais e municipais que também seguem estruturas próprias de partição .
2Fundação Sistema de Análise de Dados - SEADE http:// www.seade.gov.br
3O Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) também elaborado pela Fundação SEADE identifica o estágio de desenvolvimento dos municípios, para subsidiar as lideranças políticas no monitoramento das diferentes performances econômicas e sociais dos municípios do Estado de São Paulo. Disponível em http://www.al.sp.gov.br/index_iprs.htm
4IBGE: www.ibge.gov.br
5 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-86/2005
Data de Publicação: 26/09/2005
Autor(es):
Malimiria Norico Otani (maliotani@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Vera Lucia Ferraz dos Santos Francisco Consulte outros textos deste autor
Luiza Maria Capanema Bezerra (luizamcb@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor