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E-commerce no setor agrícola
Estima-se que o comércio, na União Européia, totalizará cerca de $19,060 trilhões de dólares em 2005, representando aproximadamente um terço do comércio mundial. Desse total, o e-Comércio1 ou comércio 'on line' atingiria uma receita bruta de $2,527 trilhões de dólares.2 As principais possíveis vantagens do e-Comércio na agricultura são: fortalecimento das cooperativas em função da conectividade proporcionada; redução do número de intermediários; expansão dos mercados regionais; e redução dos custos de transações através da automação de processos. As possíveis desvantagens seriam: problemas com a segurança das informações transmitidas pela WEB; resistências em efetuar esse tipo de transação; grande número de navegadores curiosos; exigência de adoção de novas formas de ação por parte dos produtores, o que nem sempre é fácil se conseguir.5 _________________________
1Tendo em vista a natureza introdutória deste ensaio, considerou-se importante esclarecer o conceito de e-Comércio ou comércio 'on line'. De modo sintético, pode ser considerada como a ação de 'comprar e vender bens e serviços e a transferencia de fundos através da comunicação digital'. Entretanto, o e-Comércio inclui também todas as funções inter-empresas e intra-empresas (tais como o marketing, finanças, produção, vendas, e negociações) que possibilitam o comércio e o uso do correio eletrônico, o EDI (Eletronical Data Interchange), a transferência de arquivos, passar fax, realizar videoconferências, e a interação entre computadores a distância. O comércio eletrônico inclui também a compra e venda através da Internet, transferência eletrônica de fundos, o dinheiro digital (por exemplo, o desenvolvimento do biochip Mondex) e todas outras maneiras de realizar negócios através das redes digitais. Na realidade, o surgimento e o desenvolvimento do e-Comércio estão inseridos na forte tendência à desmaterialização dos mercados. Nesta, a virtualização do dinheiro já não é um fato recente. Essa tendência acentuou-se com a introdução dos cartões de crédito, os caixas automáticos e a informatização do sistema financeiro. A abordagem do e-Comércio feita por Wilson (2000)2 considera três categorias nesse campo:
Destaca também no e-Comércio
dois tipos de negócios B2B, ou seja, 'Business to Business', que em português
poderíamos denominar NparaN, e o B2C, ou seja, 'Business to Consumer', negócio
para consumidor NparaC. 2WILSON, P. An overview of developments and
prospects for e-commerce in the agricultural sector. AGRA-EUROPE in: European
Commission Agriculture directorate-general, 2000 3 MESQUITA, R. Do plantão INFO. Disponível em: http://info.abril.uol.com.br/ferramentas/print.php
. Acessado em 31 de março de 2005. 4 JORGE JÚNIOR, A. Comercialização Eletrônica de Hortigrangeiros e Flores. AGROSOFT BRASIL. Disponível em: http://www.agrosoft.org.br/ver.php?pagina=61 5 PAGLIS, C. Internet na Agropecuária. Fito 123 – Informática na Agricultura. (sd) Disponível em: http://www.dag.ufla.br/MODAGP/_private/Internet_Agropec.pdf
. Acessado em : 10/02/2005 6 RESENDE, J.V. O Futuro dos Sites de Agronegócios. IEA, 01/08/2000. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=278
, acessado em 12 de abril de 2005. 7Ver por exemplo: http://www.webmaggia.com.br/lojavirtual.htm
8 Ver http://www.e-commerce.org.br/artigos_ecommerce.htm;
9Ver sites do Banco do Brasil: http://www.bb.com.br/appbb/portal/emp/ep/srv/cpt/MeiosPagamento.jsp#links; e Megaagro (anexo cadastro de compra/venda no item negócios): http://www.megaagro.com.br
10 Programa criado pelo Ministério de Ciência e
Tecnologia e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e 25
secretarias estaduais para fornecer informações sobre ciência e tecnologia
11Artigo registrado no CCTC-IEA sob número
HP-26/2005
Para tanto, devem ser considerados os inúmeros sites e portais que existem. Análises anteriores previam para 2001, na União Européia, ao redor de 25.000 locais operacionais do e-comércio, dos quais entre 1000 e 1500 destinar-se-iam à agricultura e ao setor de alimentos. Estes locais virtuais seriam também responsáveis por cerca de 14% do comércio na agricultura, reflorestamento e indústria da pesca 'on-line' em 2005.2
Este grau de desenvolvimento teria o potencial para mudar as estruturas
organizacionais das comercializações nacionais e internacionais. Entretanto, no
caso europeu, dada a natureza diversa e fragmentada da sua agricultura, esta
alteração se daria de forma diferenciada da que ocorre nos Estados Unidos da
América, devido a diferenças de estrutura organizacional da agricultura, que de
forma mais geral favorece sobremaneira o comércio eletrônico.
No Brasil, o faturamento do comércio eletrônico, em 2004, foi de 1,75 bilhão de reais, com crescimento de 47% em relação a 2003 - '...o crescimento indica também que mais pessoas aderiram às compras virtuais - no final de 2003, tínhamos cerca de 2,5 milhões de consumidores online; no final de 2004, esse número subiu para três milhões, um crescimento de 20%...'. Para 2005, o estudo que aponta estes números previa um crescimento de 30% no faturamento do comércio eletrônico, chegando a 2,3 bilhões de reais.3
Na agricultura, um dos ideais dos agricultores em geral, especialmente dos
pequenos e médios produtores agrícolas que dependem do trabalho diário dos
familiares e que gerenciam pessoalmente seu negócio, é dispor de uma forma de
contatar diretamente os consumidores, mas isso torna-se quase impossível uma vez
que não podem deixar o trabalho direto no campo. Um dos aspectos mais
importantes do comércio eletrônico - via Internet - é o de abrir essa
possibilidade de forma que possam também escapar dos intermediários ou
atravessadores. Na Internet, a relação de e-Comércio entre produtor e consumidor
ainda é muito mais complexa do que a relação entre empresas.
As dificuldades na comercialização de produtos agrícolas em reduzida escala são
agravadas pelo fato de que muitos pequenos e médios produtores praticam uma
agricultura bastante diversificada e também muitas vezes têm criações no
estabelecimento agrícola. O e-Comércio poderia facilitar a concentração e
colocação desses produtos no mercado.
Pequenos e médios produtores agrícolas dependem em grande parte das suas
relações com o mercado. Atualmente, predominam ainda relações físicas, sejam
através de empresas de comercialização intermediárias ou mesmo através de
cooperativas. Estas formas de comercialização exigem dos produtores períodos em
que são obrigados a se ausentar do estabelecimento agrícola para efetuar a venda
de seus produtos. A utilização do e-Comércio poderia minimizar esse problema.
Como o uso do e-Comércio necessariamente exige a utilização da Internet, os
produtores passam também a ter uma vantagem adicional, que é ter à sua
disposição um poderoso instrumento para auxiliar na gerência do agronegócio.
Assim, podem ter acesso aos preços 'on-line' de insumos e de seus produtos nos
mercados internacional, nacional, regional e estadual. Isto pode servir como
referencial para suas negociações; realizar compras e vendas; aplicar
procedimentos que resultem na certificação da rastreabilidade da sua produção;
informar detalhes de faturas e realizar qualquer outro tipo de comunicação a
distância.
Em relação à comercialização eletrônica de hortigrangeiros e flores para o CEASA de Campinas4, por exemplo, aponta-se para a
possibilidade de superar as ineficiências do sistema atual de comercialização,
que é marcado pelo conservadorismo, rudimentarismo e informalismo que geram
altos índices de inadimplência entre os agentes, além de perdas físicas.
Contudo, para que o e-Comércio avance nas suas aplicações no setor agrícola, há
a necessidade de muitas e importantes mudanças, desde as ligadas a embalagens,
padronização, classificação de produtos e treinamento de produtores e de agentes
de comercialização até a necessária intervenção de agente financeiro no sistema,
para garantir as transações, o que ainda resultaria em registro preciso de todos
os negócios realizados.
A introdução e a popularização dos meios eletrônicos de comunicação também podem
permitir que os produtores agrícolas tenham de abandonar por menor tempo suas
atividades de produção para fazer pagamentos, ou qualquer outro tipo de contato
externo. Abre-se também o leque de possibilidades de contatos via Internet com
os mais variados tipos de empresas, no sentido de viabilizar a ampliação da
venda de seus produtos para um maior número de fontes compradoras ao invés de se
ficar atrelado a apenas uma empresa.
Recentemente, a introdução do conceito de multifuncionalidade da agricultura
passou a incluir atividades correlatas como o lazer rural e o ecoturismo que só
puderam tornar-se acessível de forma ampla através de contatos estabelecidos com
os clientes via Internet.
Um fato, entretanto, pode ser considerado inexorável: o produtor rural terá de
mudar substancialmente seus conceitos e padrões de comercialização.
Os potenciais benefícios de e-Comércio para a agricultura podem
abranger:
Pesquisa realizada para as condições da região de Wales, no Reino Unido, indicou
os três principais benefícios da utilização do e-Comércio no setor agrícola:
surgimento de novas oportunidades de negócios; aumento da base de consumidores
ou compradores; e marketing mais eficiente. A mesma pesquisa aponta as maiores
barreiras para a adoção do e-Comércio na agricultura: inexistência de pessoal
capacitado e com experiência; não compreensão do assunto; e custos elevados. Mas
entre estes destacou-se como o maior empecilho a falta de entendimento dos
assuntos envolvidos na utilização e exploração das tecnologias do e-Comércio.
Indicou também, como fator limitante à sua adoção, a falta de esclarecimento e
de educação por parte dos pequenos e médios produtores em relação ao tema.
A proposta de implantação de sistema de e-Comércio no setor agrícola brasileiro
passa pelo prévio estabelecimento de condições mais favoráveis à introdução e
divulgação dessas novas técnicas e conhecimentos necessários ao abastecimento
nesses moldes.
Na agricultura brasileira, entretanto, ainda são muito poucas as experiências conhecidas. Ao avaliar os sites de agronegócios existentes, conclui-se que grande número deles encerrou suas atividades até meados de 2000, evidenciando a existência de dificuldades para se manter um sítio específico, por empresas que não estão inseridas no setor agrícola e desconhecem, portanto, suas especificidades6.
Mesmo assim, verificou-se a existência de vários sites que oferecem consultoria7 e informações na área de estabelecimento de lojas virtuais de e-Comércio8.Há especificamente vários sites que abrem espaço
para o contato entre produtores e intermediários e consumidores de produtos
agrícolas, mas que ainda não podem ser caracterizados claramente como e-Comércio
na agricultura. Os sites mais consolidados, atualmente, estão ligados mais a
instituições ou empresas, que já têm tradição no setor dos agronegócios.
Entre os principais obstáculos à consolidação do e-Comércio na agricultura, pode
destacar-se: o número reduzido de sites nacionais voltados ao setor, onde os
agricultores possam integrar-se; e o fato de em geral conterem especialmente os
produtos ligados às bolsas de comércio internacional de produtos agrícolas, como
algodão, arroz, boi gordo, caroço de algodão, farelos (de algodão, amendoim,
girassol, linhaça, milho, trigo e soja), fertilizantes, milho, polpa cítrica e
soja.
Nesses casos, a 'Web' permite uma relação comercial através do cadastro de compradores e vendedores que são posteriormente colocados em contato via estes portais9. Essa situação incipiente contrasta com
a da União Européia, na qual a sistematização de logística para transporte das
produções, como as de flores e hortigranjeiros, conta com sites próprios,
permitindo a comercialização até das pequenas quantidades de numerosos
produtores.
Os sites brasileiros ligados ao e-Comércio na agricultura que foram pesquisados,
na sua maioria, procuram dar nova dinâmica ao setor. Porém, ainda há apenas um
reduzido número de produtores que pode ter acesso rápido e confiável à uma
grande gama de informações comerciais e técnicas disponíveis, podendo,
entretanto, complementar informações de interesse específico através de sites
variados da Internet.
No caso de e-Comércio voltado ao setor agrícola, os sites de compra de insumos
são os que aparecem mais estruturados e já disponíveis para a utilização por
maior número de agricultores. São comuns nos sites ou nos portais dirigidos ao
setor agrícola a disponibilização de formulários de compra e venda, mas
limitados apenas para alguns produtos específicos. Uma consulta, ainda que
rápida, aos sites de e-Comércio agrícola permite a obtenção de material que
mostra o estado ainda incipiente dos serviços oferecidos.
Através do Programa Prossiga10, do Ministério da
Ciência e Tecnologia, já foram criados alguns portais que incluem o e-Comércio
com produtos agrícolas. Há também outras iniciativas de empresas privadas que
devem também permitir o aumento gradual dos chamados portais verticais, que
visam trabalhar com cadeias produtivas de cada setor, estimulando não só o
aumento dos serviços de informações, mas também abrindo espaço para o surgimento
de sites ou portais de e-Comércio ligados à agricultura.
Assim, são apenas os sites ligados a organizações já há tempos consolidadas no
setor agrícola ou econômico que conseguem apresentar alguma estrutura que
permita vislumbrar a futura ampliação do e-Comércio na agricultura brasileira.
Este, ainda que se apresente de forma incipiente, poderá vir a deter sua parcela
de participação no agronegócio. A dimensão e a importância que poderá vir a ter
e o tempo necessário para tal dependerão da superação das inúmeras barreiras
existentes, mas as experiências positivas já acumuladas, em todo o mundo, devem
ser consideradas e utilizadas como referencial.
E-commerce
brasileiro faturou R$1,75 bilhões em 2004
Segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005 - 19h27
Acessado em 22-01-2005.
http://www.e-commerce.org.br/Artigos/assinatura_digital.htm
Data de Publicação: 30/05/2005
Autor(es):
Ana Victoria Vieira Martins Monteiro (ana.monteiro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Richard Domingues Dulley Consulte outros textos deste autor