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Outubro: Mais um Mês de Aumento Preocupante dos Preços Agropecuários
O Índice de Preços Recebidos pela Agropecuária
Paulista (IqPR)1,2fechou outubro de 2020 com acréscimo de
4,63%, revertendo a sutil tendência de queda na amplitude das variações dos
preços que vinha sendo observada durante a segunda (4,89%) e terceira (4,44%)
semana do mês (Tabela 1). A importância da cana de açúcar na formação do índice
de preços recebidos pelo produtor paulista pode ser visualizada quando se
exclui esse produto do cálculo. Quando isso ocorre, verifica-se que a magnitude
do índice eleva-se e, nesse caso, o aumento do IqPR vai para 10,4% (Tabela 1). O índice de preços no campo partiu de uma variação
de 5,57% em setembro chegando a 4,63% em outubro, indicando que, apesar dos
preços recebidos pelos agropecuaristas (IqPR) continuarem em alta, essa foi
menos expressiva em outubro que no mês anterior. Cabe notar ainda que o IqPR
foi impulsionado pela menor amplitude dos preços recebidos pelos pecuaristas
(fornecedores de produtos de origem animal) que apresentou reajuste de 5,62% em
outubro. Enquanto os vegetais oscilaram de um reajuste de 5,50% para 4,26% no último
mês (oscilação de -1,24%), os pecuaristas visualizaram uma oscilação de somente
-0,12% (Tabela 1). Há duas razões que em parte justificam os preços
recebidos por produtos vegetais terem tido um aumento proporcionalmente maior
do que o preço recebido pelos pecuaristas: O aumento das temperaturas e a ocorrência de chuvas
em importantes áreas produtoras concomitantemente à maior flexibilização da
quarentena. A taxa de cambio, que impulsiona a menor
disponibilidade interna de insumos para pecuária, elevando seus custos de
produção para o milho e a soja. BATATA Com receio de perder a qualidade do produto devido
as altas temperaturas no mês de setembro, muitos produtores anteciparam a
colheita da batata, reduzindo a oferta em outubro, mês que comumente marca o
fim de uma safra e, consequentemente, o aumento dos preços na porteira. Esse
típico comportamento do mercado de batata, veio acompanhado de aumentos na
flexibilização da quarentena requerida pela pandemia do covid-19, o que tem
aumentado a demanda de restaurantes self-service. TOMATE
DE MESA Além desse
aumento de demanda, o tomate de mesa, também passou por intempéries climáticas.
O forte calor e pouca chuva, além de reduzir o volume de água nos mananciais
(com impacto no sistema de irrigação) e propiciar a incidência de pragas também
antecipou a maturação do fruto, causando queda de produtividade e, com isso,
menor oferta. Outra razão que, em parte explica o aumento nos preços recebidos por
produtos vegetais (IqPR-V) ter sido proporcionalmente maior do que o preço
recebido pelos pecuaristas (IqPR-A), são os altos preços recebidos por outros
produtos de origem vegetal: a soja e o milho com acréscimos em outubro de 16,9%
e 15,9%, respectivamente (tabela 2). Tais produtos integram a cadeia proteica e
são fortemente impactados pelo comércio internacional. Desde a drástica redução
do rebanho chinês de suínos devido a problemas sanitários, esse país vem
aumentando a demanda por carnes, impulsionando as exportações brasileiras e
trazendo reflexos em toda a cadeia produtiva e na oferta do mercado doméstico:
dos frigoríficos aos fornecedores de insumo, onde se inserem o produtor de
milho e as indústrias de processamento. Em ambos os casos,
o aumento da demanda internacional por milho e soja acelerou as vendas no
mercado futuro, o que contribuiu para reduzir a disponibilidade interna dos
mesmos e, consequentemente, aumentar os preços recebidos por esses agricultores
e os custos dos pecuaristas, que os repassam aos frigoríficos. Especificamente no
caso do milho, que tem o consumo animal como maior destino de mercado, a
colheita da segunda safra brasileira amenizou, em parte, o aumento dos preços
do produto frente à ameaça da qualidade da próxima safra sulista (devido às
chuvas) e ao atraso de semeadura da safra paulista. A soja, além do
mercado internacional, após processamento gera dois subprodutos alimentícios: o
farelo, destinado ao consumo animal e o óleo que pode ser direcionado às usinas
(para produção de biodiesel) ou ao refino, para consumo humano. Assim,
diferentemente do milho, cujos repasses do aumento de preços em nível de
produtor são sutilmente sentidos no elo varejista, aumentos no preço do
sojicultor perpassam por toda a cadeia, ou seja, o aumento da soja implica no
aumento do óleo de soja o qual é repassado para as indústrias alimentícias,
impactando fortemente para o consumidor (final) varejista. Esse, muitas vezes
não entende o porquê do aumento do preço nas margarinas ou na redução do peso
drenado de biscoitos e confeitos, bem como reflete no aumento do preço de
conservas e enlatados. Isso ocorre porque grande parte das pessoas desconhecem
que o óleo vegetal é um ingrediente das indústrias alimentícias, seja como
matéria prima fundamental ou como conservante. O fato é que
produtos alimentícios ficaram mais caros, num contexto no qual a demanda
internacional associada à taxa de cambio favorecem o escoamento do produto para
a exportação em detrimento do processamento industrial. A perpetuação desse
processo leva a queda do poder aquisitivo da população e aciona fortemente a
inflação. Outros destaques nas altas do índice de preços
recebidos pelos agropecuaristas no mês de outubro/20 (oitavo sob o impacto do COVID-19) foram a laranja para mesa (14,53%), a carne
suína (9,86%), o amendoim
(7,56%) e a carne bovina (6,98%). No
caso dos produtos tradicionais da cesta básica, arroz (1,74%) e feijão
(4,80%), mesmo com reajustes menores, continuaram apresentando altas nesse
momento de crise da economia brasileira. Leite
(5,52%) e ovos (4,53%) também não
cederam a alavancagem inflacionária do campo paulista visualizada nos últimos
meses. Apresentaram quedas de rentabilidade em outubro de 2020 somente o café (-10,52%) e a cana-de-açúcar (-2,55%) (Tabela 2). 2
- ACUMULADO DOS ÚLTIMOS 12 MESES PARA O IQPR No acumulado de outubro/2019 a outubro/2020, todos
os índices apresentaram reajustes positivos (Figura 1). Nesse intervalo, oIqPR variou positivamente em10
meses (Figura 2), num acúmulo de reajuste de 36,55% (Figura 2). Desde o mês de
maio de 2020, diagnostica-se uma subida preocupante de quase 3 vezes em todos
os índices (com destaque para os produtos de origem animal, que subiram quase
50% em 12 meses) (Figura 2). Dentre
os 18 (dezoito) produtos levantados, 17(dezessete) tiveram variações positivas
(Tabela 2). A carne de frango, devido a mudanças metodológicas, não apresentou
base de comparação nesse período. Destacou-se nesse intervalo a alta do arroz (128,50%) (Tabela 2). 1A fórmula de
cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da
produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas
pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas
comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os
preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência =
01/10/2020 a 31/10/2020 e base = 01/09/2020 a 30/09/2020. 2Artigo completo
com a metodologia: Pinatti, E. et al. Índice quadrissemanal de preços recebidos
pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v. 38,
n. 9, p. 22-34, set. 2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/ Palavras-chave: IqPR,
índice, preços recebidos, índices agrícolas, variações, indicadores. COMO
CITAR ESTE ARTIGO
FREITAS, S.
M. de et al. Outubro: Mais um Mês de Aumento Preocupante dos Preços Agropecuários. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 11, nov. 2020. Disponível
em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
verTexto.php?codTexto=9573. Acesso em: nov. 2020.
Data de Publicação: 25/11/2020
Autor(es):
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maximiliano Miura (maximiliano.miura@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor