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Cesta de Mercado em Tempos de Covid-19 - março de 2020
Ao longo das últimas décadas, estudos sobre consumo
de alimentos apontam para o crescimento da alimentação fora do lar, inclusive
em cidades pequenas, sendo o aumento da jornada de trabalho, a inserção
feminina no mercado de trabalho e a diminuição do número de integrantes das
famílias as justificativas apontadas. Com a pandemia da covid-19 que assola o planeta,
medidas de isolamento social orientadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
foram adotadas mundo afora, inclusive no Estado de São Paulo desde o dia 20 de
março de 2020. Tal cenário transformou significativamente o comportamento de
consumo de todos os produtos, em especial o de alimentos. Com o isolamento social e as incertezas causadas
pela contaminação da doença, as famílias passaram a fazer a maioria de suas
refeições no lar, impactando diretamente a economia dos equipamentos de varejo,
do setor de bares, restaurantes e delivery. No sentido de colaborar com o entendimento do
impacto econômico no consumo familiar, o Instituto de Economia Agrícola
acompanha sistematicamente com periodicidade mensal a variação de preços de
alimentos no município de São Paulo, organizados em uma cesta de mercado de
pouco mais de 100 itens. Este levantamento abrange o dispêndio familiar dentro
do domicílio em todas as faixas de renda. Por ser um estudo contínuo e não
pontual, permite diversas análises, como comparações temporais e estudo de
cenários e, em função disso, levantamentos de dados como este tornam-se ainda
mais essenciais, especialmente em momentos de grande instabilidade econômica
como o que estamos vivenciando. Especificamente no mês de março, a pesquisa apontou
alta de 0,78% nos preços médios dos alimentos, sendo que os produtos de origem
animal apresentaram uma variação maior, 1,72%, e os de origem vegetal marcaram
índice negativo de 0,18%. Entre os produtos de origem animal, destacam-se as
variações de preços do frango (7,48%) e ovos (7,44%). Possivelmente, estes
produtos estão com demanda aquecida por ser uma fonte de proteína de menor
valor em comparação a carne bovina e suína. Em relação ao grupo de produtos vegetais, destaca-se
a variação negativa de preços das frutas (2,58%), com destaques para a queda de
preços da laranja (7,33%) e da banana nanica (5,95%). Nesta época inicia-se a
safra de caqui, que caracteristicamente tende a puxar os preços das outras
frutas para baixo, fato corroborado com a variação negativa de 0,36% observada
neste mesmo período no ano anterior. Entre os produtos básicos, o preço médio do açúcar
foi 2,80% menor em relação a fevereiro, o que demonstra, possivelmente, reflexo
da diminuição da demanda, aumentando sua oferta. O feijão teve 1,99% de aumento
no mesmo período, o que não pode ser associado ainda com a pandemia da covid-19,
pois historicamente nesta época ele sofre incremento nos seus preços. Na
totalidade dos produtos básicos, apurou-se em março uma variação positiva de
0,30%. A figura 1 mostra a evolução dos indicadores por
subgrupos de origem animal nos três primeiros meses do ano e pelo Índice de
Preços da Cesta de Mercado de Origem Animal (IPCMA). Os resultados mostram que,
após intenso aumento das carnes bovinas no final do ano passado, neste ano o
subgrupo carnes e derivados iniciou o ano com reduções de 2,21%, e 2,02 e em
março, impulsionado por frango e ovos, o indicador foi positivo em 1,95%. Os preços dos itens que compõem o subgrupo leites e
derivados se mantiveram relativamente estáveis nestes primeiros três meses,
acumulando alta de 1,18%, enquanto os ovos apresentaram significativa queda de
preços em janeiro devido ao recuo de demanda e recuperação nos meses seguintes,
em virtude do período de quaresma e maior procura por proteínas de menor
dispêndio. A figura
2 acompanha a evolução dos indicadores de variação de preços por subgrupos de
origem e vegetal e por Índice de Preços da Cesta de Mercado de Origem Vegetal
(IPCMV) entre os meses de janeiro a março de 2020. Observa-se
na figura que os primeiros dois meses do ano (janeiro e fevereiro) apresentaram
intensa variação de preços nos subgrupos de frutas e de hortaliças. Produtos
como a banana nanica, mamão, melancia, tomate, batata e alface contribuíram
para a elevação dos indicadores. A entressafra e as chuvas intensas em janeiro
explicam essas variações, além de que nos meses de janeiro e fevereiro o
consumo de frutas e hortaliças é menor todos os anos devido às férias
escolares. Em relação aos produtos básicos, destaca-se o aumento de 2,54% no
subgrupo, impulsionado pelos aumentos de preços do óleo de soja e do arroz. Em relação ao Índice de Preços da Cesta de Mercado
Total (IPCMT), indicador que acompanha o dispêndio familiar para aquisição de
itens alimentícios, o acumulado no ano é de 1,32%. No mês atual, o índice foi
de 0,78%, valor inferior ao observado em fevereiro (0,82%). Pelos valores observados no levantamento de preços
de março de 2020, não se constata variação significativa de preços ao
consumidor em função da nova covid-19. Entretanto, ressalta-se que as medidas
de isolamento foram tomadas no ultimo terço do mês, portanto, o número de dias
pode ter sido insuficiente para verificar mudança de tendência dos preços no
mês. O levantamento de abril deverá fornecer um cenário mais completo dos
preços ao consumidor no município de São Paulo. Palavras-chave: varejo,
cesta de mercado, município de São Paulo.
Data de Publicação: 17/04/2020
Autor(es):
Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor