Fruticultura e o “Velho Chico“

O Brasil é um dos cinco países maiores produtores de frutas frescas no mundo, apresenta clima favorável à produção de diversas espécies e variedades, dentre as quais a manga é um exemplo, com significativos índices de exportação.

É notório que a inserção no mercado internacional foi promovida pelo aumento da produtividade agrícola e da competitividade do setor, diante de um cenário que aparece cada vez mais exigente em termos de preços e condições fitossanitárias das frutas exportadas.

Os principais mercados consumidores são os países da União Europeia e os Estados Unidos, enquanto se destacam como Estados brasileiros maiores exportadores Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo.

As exportações brasileiras de manga passaram de 67,2 mil toneladas no valor de US$35,76 milhões em 2000 para 143,8 mil toneladas no valor de US$170,43 milhões em 2015, revelando a boa potencialidade de colocação no mercado internacional onde são exigidos frutos sadios, com peso entre 300 e 500 gramas; sem manchas de doenças ou de injurias mecânicas (batidas) durante a colheita até o país importador. Em 2015 o Brasil colocou-se em 6º lugar entre os países exportadores (Tabela 1).

Essa crescente evolução foi decorrência de maiores volumes da produção de varie-
dades mais desejadas pelos importadores – Palmer, Haden, Keitt e Tommy Atkins – obtidos em sua quase totalidade em pomares irrigados com águas do Rio São Francisco (popularmente conhecido como “Velho Chico”) e seus afluentes nos oito municípios que compõem o Polo Petrolina (PE) – Juazeiro (BA), que ostenta o título de maior exportador de frutas do Brasil.

Um importante diferencial para esse cenário é que a manga dessa região chega à Europa (julho a setembro) quando não há competição com outros produtores mundiais.

Todavia, pode-se afirmar que não se faz qualidade nos packing-houses, sem fruta produzida, colhida e transportada corretamente , ou seja, os avanços nas lavouras, com treinamento de recursos humanos, têm permitido enviar manga de superior qualidade para mais de 18 países importadores.

Tabela 1 - Principais Destinos das Exportações de Manga, Brasil, 2000 a 2015

Ano

Quantidade (t)

Holanda

Estados

Unidos

Espanha

Reino

Unido

Portugal

Outros

Total

2000

34.150

16.863

3.081

2.696

1.746

8.636

67.172

2001

42.384

27.371

3.373

6.162

6.563

8.438

94.291

2002

40.102

36.281

2.460

4.993

9.037

10.725

103.598

2003

59.790

38.990

4.136

8.275

14.396

12.602

138.189

2004

52.467

27.396

3.698

7.805

10.153

9.662

111.181

2005

52.335

26.335

5.424

8.507

10.848

10.433

113.882

2006

52.507

23.372

6.726

11.233

9.947

10.909

114.694

2007

54.007

24.549

7.328

10.395

8.549

11.443

116.271

2008

66.526

26.045

8.645

10.641

9.346

12.741

133.944

2009

52.393

23.618

9.464

8.731

5.949

10.200

110.355

2010

60.951

24.547

12.747

8.397

6.758

10.980

124.380

2011

63.262

24.929

13.630

8.698

4.937

11.112

126.568

2012

63.301

24.362

15.793

8.559

4.628

10.489

127.132

2013

59.237

23.952

16.925

5.633

6.122

10.309

122.178

2014

62.252

22.678

17.136

9.039

7.742

14.186

133.033

2015

65.586

31.918

20.584

12.022

10.084

3.615

143.809

Ano

Preço FOB (US$/t)

Holanda

Estados

Unidos

Espanha

Reino

Unido

Portugal

Outros

Total

2000

494

547

496

515

765

637

534

2001

520

551

610

493

592

611

544

2002

436

512

502

467

582

522

487

2003

508

574

522

564

601

603

549

2004

591

458

706

616

706

651

579

2005

630

556

634

637

823

712

640

2006

711

741

716

692

865

934

750

2007

741

629

902

737

999

1.030

774

2008

765

881

1.014

952

1.249

1.106

885

2009

761

776

1.040

995

1.394

1.341

895

2010

820

762

1.106

1.413

1.565

1.284

959

2011

981

837

1.200

1.883

1.927

1.416

1.113

2012

969

793

1.168

1.920

1.448

1.512

1.086

2013

1.144

881

1.255

2.331

1.516

1.441

1.206

2014

1.076

1.070

1.270

2.285

1.451

1.325

1.231

2015

998

1.061

1.132

2.326

1.287

1.892

1.185

Fonte: FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS - FAO. Banco de dados. Roma: FAO. Disponível em: <http://faostat3.fao.org/home/E/>. Acesso em: 17 mar. 2016; MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Agrostat. Brasília: MAPA. Disponível em: <http://agrostat2.agricultura.gov.br/index.htm>. Acesso em: 17 mar. 2016.

 

Os packing-houses instalados na região são da mais moderna tecnologia, com esteiras transportadoras de caixas, tanques para limpeza e tratamento térmico das frutas e linhas de classificação com recursos computacionais para seleção das mangas por cor e tamanho padronizados.

Tendo em vista as perspectivas de exportação brasileira de manga, o estudo de Amaro e Vicente (2016)1 detalhou aspectos qualitativos e quantitativos, que também constam do trabalho de Amaro (2003)2, publicado pela Japan Fruit Foundation (não publicado em português), e que serviu de base para a audiência pública no Japão em 2003, com vistas à abertura desse mercado para a fruta originária do Brasil, até então proibida de entrar naquele país.

A partir de 2004, após assinatura de acordo de comércio entre os dois países, foram iniciados os embarques da manga brasileira, seguindo todos os trâmites de exportação, com ênfase nos aspectos fitossanitários específicos impostos pelo governo do Japão, dentre os quais se destacam: obrigatoriedade de tratamento térmico (imersão dos frutos em água quente a 55º C por cinco minutos), ao início do processo de beneficiamento, e controle na embalagem e no transporte até os portos de embarque (Suape, Salvador e Pecem) e ao Aeroporto Internacional de Petrolina.

Cabe, ainda, observar que o governo japonês mantém inspetores técnicos durante o período de exportação para verificar se as medidas fitossanitárias estão sendo devidamente cumpridas na região produtora e em especial nos packing-houses do Polo Petrolina- -Juazeiro.

Em 2013, o Brasil exportou para o Japão 424 toneladas de manga, no valor de US$2,3 milhões, o que representou 5% do volume de importação por esse país, um mercado bastante concentrado em pequeno grupo de países como origem da fruta.

Quanto à potencialidade do mercado externo para a manga brasileira é difícil fazer uma avaliação mais segura e completa, pois espera-se que nos próximos anos a produção deverá se estabilizar ou mesmo apresentar modesto crescimento, principalmente na região do Vale do Rio São Francisco, em especial das variedades mais nobres, em decorrência da relativa escassez de recursos hídricos para irrigação dos pomares, uma vez que nos últimos quatro anos registraram-se chuvas abaixo da média, o que levou à redução do volume de água nos reservatórios.

Um dos pontos quanto à produção irrigada é o gerenciamento da atividade, assim como a capacidade de organização e cooperação, aumentando também na comercialização o poder de barganha dos fruticultores, em sua maioria pequenos produtores.

Em resumo, é, portanto, necessário investir sempre mais em tecnologia, com o objetivo de melhorar a competitividade, uma vez que o Brasil apresenta condições de produção de dezenas de frutas com maior aceitação no mercado mundial como: manga, melão, uva, mamão, abacaxi, goiaba de mesa, figo fresco, abacate, limão e laranja3.

 

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1AMARO, A.A.; VICENTE, J.R. Manga no Brasil: aspectos econômicos e comerciais no século XXI. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 54., 2016, Maceió. Anais eletrônicos... Brasília: SOBER, 2016. p. 1-14. Disponível em: <http://icongresso.itarget.com.br/useradm/anais/?clt=ser.6>. Acesso em: mar. 2017.

 

2AMARO, A. A. A Manga no Brasil. São Paulo: IEA, 2003. Mimeo.

 

3Em fevereiro de 2017, a Coreia do Sul anunciou que estão aprovados os requisitos fitossanitários para exportação de manga do Brasil. Em 2016, as compras coreanas de manga somaram mais de US$48 milhões. Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/noticias/coreia-do-sul-abre-mercado-para-brasil-exportar-manga_388553.html>. Acesso em: mar. 2017.

 

 

Palavras-chave: comércio exterior, mercados internacionais, barreiras não tarifárias, manga.


Data de Publicação: 28/03/2017

Autor(es): Antonio Ambrósio Amaro (amaro.pingo@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
José Roberto Vicente (jrvicente@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor