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Segmento de Máquinas Agrícolas Automotrizes Encolhe Anunciando Mais Crise
No Brasil, em 2014, tanto a produção quanto as
vendas de máquinas agrícolas automotrizes reduziram em comparação a 2013. Na
produção, a queda foi de 18,0%, enquanto nas vendas (somatória do mercado
interno e exportações), a retração atingiu 16,5%. Entre janeiro a maio de 2015,
nova baixa de produção e vendas foram registradas frente ao mesmo período do
ano anterior, contabilizando diminuição de 23,0% e 24,4%, respectivamente.
Sequer a desvalorização cambial, ocorrida em 2015, contribuiu para o incremento
das exportações que no período considerado declinaram em 20,2% (Tabela 1). Nos primeiros cinco meses de 2015, todos os tipos de
máquinas (tratores de rodas, colhedoras e tratores de esteiras) registraram
generalizada queda dos indicadores (produção, vendas para o mercado interno –
nacionais/importadas e exportações), excetuando- -se as exportações de
cultivadores motorizados, assim como a produção e a exportação de
retroescavadeiras, que exibiram melhor desempenho. O escoamento da produção
desses itens para clientes internacionais foi a solução encontrada para se
contrapor à retração do mercado interno. O maior mercado para o segmento é o de tratores de
rodas. Em 2014, foram produzidas 64.783 máquinas desse perfil, sendo
comercializadas 65.030 unidades (total de vendas internas e exportações). Todavia, esses montantes situam-se abaixo do ano
anterior em 16,5% e 14,7%, respectivamente. Nos primeiros cinco meses de 2015,
o declínio observado foi ainda mais forte, contabilizando baixa de 22,8% na
produção e de 21,1% no total de vendas. A perda de dinamismo do segmento irá
reduzir o mercado a patamares similares aos que se registravam na segunda
metade da década passada, retrocesso incompatível com as exigências advindas do
avanço da produção de grãos e fibras que se conduziu no país. Problemas com o cronograma de
liberação de crédito para novas aquisições, associados tanto
ao aumento das taxas de juros incidentes nos novos financiamentos (de 4,5% a
6,5% a.a. para 7,0% a 7,5% a.a. – percentual variável dependendo do faturamento
bruto do estabelecimento)1 quanto ao clima de recessão que se
instalou no Brasil, formam cenário pouco promissor para que a produção e vendas
incrementem o ritmo de negócios. Ademais, segundo analistas
econômicos especializados em agronegócios2, o cenário prospectivo
para as cotações das principais commodities
não deve exibir altas significativas, dificultando a adoção de estratégias, por
parte dos agricultores, de renovação de sua frota. As vendas de colheitadeiras
também não destoaram daquilo que exibiram os tratores de rodas. O acentuado
declínio no total das vendas registrado entre 2013 e 2014 (-22,8%)
aprofunda-se nos primeiros cinco meses do ano, com mais 37,3% de redução frente
ao mesmo período do ano anterior. Comparativamente ao recorde de vendas
estabelecido em 2013 com a comercialização de 98.634 máquinas, em 2015, talvez
se atinja apenas metade dessa quantidade. Caso tal expectativa se concretize,
certamente acarretará perda relevante de dinamismo setorial. As operações de combate à corrupção nas empresas
estatais atingiram o cerne das principais empreiteiras do país. A interrupção
dos pagamentos de obras em andamento pode desencadear processos falimentares.
Essa complexa situação já compromete a venda de tratores de esteiras que, entre
janeiro e maio de 2015, teve produção e vendas no mercado interno em quedas de
45,2% e 57,3%, respectivamente. Em 2013, mesmo com a paridade cambial desfavorável,
a efetivação de negócios com o exterior atingiu seu recorde de exportações,
faturando US$3,55 bilhões. Em 2014, ainda com a cotação do real valorizada e embora
em patamar mais favorável às transações com o exterior, observou-se retração no
faturamento em negócios com o exterior (US$2,82 bilhões). O aprofundamento da
desvalorização do real, porém, não trouxe novo alento ao segmento que, entre
janeiro a maio de 2015, totalizou apenas US$769 milhões com as vendas externas.
Devido a sazonalidade típica dos
negócios no segmento, habitualmente, espera- -se melhores vendas no segundo
semestre com maior procura pelos tratores de rodas. Todavia, em razão dos
diversos constrangimentos mencionados (elevação das taxas praticadas, recessão
e tendência de baixa para as cotações das commodities),
tal melhoria pode não ocorrer com produção e vendas estabilizadas no patamar
dos 4 mil tratores ao mês (Figura 1). Considerando as vendas por unidade da federação, em
2014, o Rio Grande do Sul exibiu a liderança nas vendas para o mercado interno,
com participação relativa de 18,8%. Conjuntamente, a porção meridional do país
responde pelo destino de 40,9% do total de vendas no mercado interno. Por sua
vez, o Estado de São Paulo aparece na vice-liderança na demanda por máquinas
agrícolas automotrizes, representando 16,5% desse mercado (Figura 2). A perda
de liderança paulista no segmento em 2014 foi, em parte, consequência do
sucateamento do ramo sucroenergético em razão da política tarifária para os
combustíveis dos últimos anos adotada pelo governo federal. O revigoramento adotado para o MODERFROTA e PSI
juntos no Plano Agrícola Pecuário 2015/16 prevê alocação de recursos na
aquisição de máquinas agrícolas automotrizes da ordem de R$10 bilhões, montante
bastante expressivo. No plano anterior, foram alocados R$3,5 bilhões (para o
MODERFROTA, exclusivamente), montante majorado para R$3,75 bilhões em
resoluções posteriores3, 4, demonstrando que os formuladores das
políticas públicas para o segmento estão sensíveis à problemática representada
pela queda na produção e vendas de máquinas agrícolas automotrizes. Dentre os segmentos que compõem a economia
brasileira, em 2015, o agronegócio será o único a exibir taxa de crescimento
positiva, preliminarmente estimada em 2,0% a 2,5%. Considerando ainda o reforço
que a linha de crédito recebeu e o dinamismo que os empreendedores do campo
exibem, não se deve imaginar que a atual crise permaneça por alongado prazo. _____________________________________________________ 1Entre
julho de 2014 e fevereiro de 2015, dos R$3,75 bilhões alocados no MODERFROTA, a
modestíssima quantia de R$306,4 milhões foi aplicada, representando apenas 8,2%
do total. RECURSOS aplicados no crédito rural chegam a R$ 103 bi. Portal Brasil, Brasília, 20 abr. 2015.
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/04/agricultores-contratam-66-do-credito-e-montante-final-pode-chegar-a-r-156-bi>. Acesso em: 2 jul. 2015. 2BARROS,
J. M. de. Um roteiro estratégico para o agronegócio brasileiro. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28
jun. 2015. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,um-roteiro-estrategico-para-o-agronegocio-brasileiro,1714863>.
Acesso em: jul. 2015. 3MINISTÉRIO
DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Banco de dados. Brasília: MAPA. Disponível em:
<http://www.agricultura.gov.br/pap>. Acesso em: jul. 2015. 4Op.
cit. nota 1. Palavras-chave:
mercado de máquinas agrícolas, vendas de tratores, colheitadeiras.
Data de Publicação: 17/07/2015
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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