Custo De Produção: Sem Medir Não Dá Para Competir

            Nas pesquisas de campo em custos de produção é muito comum encontrar pequenos e médios produtores rurais com dificuldades em conhecer seus custos de produção, alguns por simples desconhecimento, outros alimentados por (ou alimentando) determinadas crenças populares, ou mesmo por desinteresse ou por falta de meios e objetivos.
            Este quadro é muito preocupante pois qualquer atividade sem gerenciamento, sem domínio dos custos dos seus negócios, pode estar se descapitalizando, sofrendo asfixia econômico-financeira, sem perceber que está num lento processo de falência e morte da empresa.
            O objetivo deste texto é simplificar, desmistificar e motivar os produtores a conhecer seus custos de produção, com o intuito de torná-los mais competitivos no mercado globalizado, o qual, queira ou não, está submetendo todos à pressão permanente dos concorrentes.
            Alguns produtores alimentam ditos e crenças populares, tais como: é difícil e complicado; se colocar no papel dá prejuízo; não ajuda a ganhar dinheiro; é preciso um computador.
            É difícil e complicado ? Pode ser no começo, até que se aprenda os fundamentos, mas quando se familiariza com o assunto fica fácil, rotineiro e automático. É preciso ter um pouco de persistência, vontade de aprender e de melhorar o conhecimento.
            Se colocar no papel dá prejuízo? Muitos dos fatores utilizados na produção, principalmente os familiares, costumam no início ser superestimados, tais como a mão-de-obra familiar e os custos indiretos de benfeitoria, terra, trator e colhedora. Com o tempo, vai se absorvendo o conceito de mercado, tendendo a se ajustar mais adequadamente.
            Não ajuda a ganhar dinheiro ? Sem conhecer os custos, não se pode saber se está perdendo ou ganhando dinheiro. Entretanto, ao conhecê-los, se terá consciência da sua origem, das suas causas, dos seus erros ou falhas e de como corrigi-los. Evitar custos altos, e por conseqüência que o dinheiro vá para o ralo, é também ganhar dinheiro.
            É preciso um computador? Não é absolutamente necessário, mas se tiver é melhor. Os cálculos de custos diretos podem ser feitos até nos cadernos comuns com uma calculadora simples. Se tiver um computador, pode sofisticar-se mais e até calcular os custos indiretos numa planilha eletrônica (Excel ou Lotus) ou ainda no Access, ou num aplicativo especializado, tal como os elaborados pelo IEA e outras instituições voltadas para a agropecuária.
            Surge então a primeira preocupação: 'Não sei sequer estimar o custo do trator.' Pois bem, o cálculo não é tão complicado assim. De início, somam-se os gastos com combustível, manutenção e reparos, dividindo-os por horas trabalhadas, para obter os custos diretos por hora.
            Assim, as operações de preparo do solo e de cultivo, como aração, gradeação e pulverização, podem ser estimadas, multiplicando-se o valor do custo horário do trator pelas horas trabalhadas. Adicionando-se os serviços empreitados, obtém-se o custo das operações.
            Os custos do material consumido, como adubos e corretivos, defensivos e embalagens podem ser obtidos facilmente multiplicando-se a quantidade consumida na cultura pelo preço de compra.
            A mão-de-obra pode ser estimada somando-se o salário mensal aos encargos pagos, divididos pelo número de dias por mês ou por ano, descontados os feriados, fins-de-semana e os dias não trabalhados para atenção à saúde do trabalhador. Os encargos básicos sobre o salário a serem considerados são: férias, 13º salário, FGTS, INSS e rescisões trabalhistas, que podem ser simplesmente substituídos pela adição de mais 33% sobre o salário.
            Um exemplo de cálculo de custo numa cultura qualquer pode ser esclarecedor.
    1º Passo: Determinar o custo da mão-de-obra
Salário mensal: R$ 450,00
Dias trabalhados: 270 no ano, ou 22,50 no mês
Encargos sociais: 33% sobre salário (R$ 148,50)
Salário mais encargos: R$ 598,50
Custo por hora: R$ 598,50 / 22,50 dias / 8 horas = R$ 3,33

2º Passo: Determinar o custo horário do trator
            Considerando um trator médio, semi-novo, com potência em torno 70cv, valor de mercado R$ 30.000,00 e 1000 horas de trabalho por ano.
            Gastos com combustível por dia: 72 litros x R$ 0,84 = R$ 60,48 / 8 horas = R$ 7,56 / hora
            Manutenção: gasto de R$ 1200,00 por ano = R$ 1200,00 / 1000 horas = R$ 1,20 / hora.
            Reparo: gasto de R$ 3.000,00 / ano = R$ 3000,00 / 1000 = R$ 3,00 / hora
            Custos diretos: combustível + manutenção + reparos = R$ 7,56 + R$ 1,20 + R$ 3,00 = R$ 11,76 / hora
            Implementos (em média) R$ 1,00 / hora
            Trator + operador + implementos = R$ 11,76 + R$ 3,33 + R$ 1,00 = R$ 15,76 / hora
            Tempo gasto nas operações por hectare: preparo do solo (4.0h), plantio e adubação (2.5h), cultivo (1,5h), colheita e transporte (2,0h), totalizando (10,00 horas) x R$ 15,76 = R$ 157,60
            Material consumido. Esta lista é longa mas é fácil de ser enumerada. Basta multiplicar adubo, corretivo, defensivos e embalagens pelos preços de compra que se obtém o total. Vamos admitir o total de R$ 700,00.
            Quanto aos custos indiretos, arbitrariamente tomaremos como 30% dos custos. Assim, somando R$ 157,60 de operações, R$ 110,00 de empreita de colheita e R$ 700,00 de material consumido, teremos R$ 967,60, aos quais somados 30% de custos indiretos alcança-se o total de R$ 1257,88, que, dividido pela produtividade de 60 sacas, resulta em R$ 20,96 por saca produzida.
            Deve-se ressaltar que um dos passos importantes na redução dos custos é obter boa produtividade na cultura, porque ela é o denominador dos fatores empregados na produção.
            Veja como é simples determinar o custo de produção. Não vale a pena estar pagando para trabalhar. Mãos à obra: lápis e caderno, para conhecer os seus custos e receitas. Sem medir não dá para competir. Pense nisso. Sugestões e dúvidas, escreva para
okawa@iea.sp.gov.br.

 

Data de Publicação: 01/08/2002

Autor(es): Hiroshige Okawa (okawa@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor