Antúrio de corte: alternativa para pequenas propriedades

            Um dos grandes problemas da pequena propriedade rural consiste em aumentar a renda obtida face à limitada área de cultivo (que impede a expansão horizontal). Isto restringe o potencial de obtenção de economias de escala com redução de custo operacional, tornando a pequena propriedade menos competitiva no mercado globalizado.
            No entanto, há outras alternativas para as propriedades orientadas para o aumento do valor da produção, representado nas culturas de maior valor agregado. Trata-se do uso de alta tecnologia e cultivo intensivo da terra através do controle parcial ou total do ambiente, regulando temperatura e umidade com o uso da irrigação/microaspersão (estufas); e da adubação controlada que proporciona crescimento vegetativo e floração, além de reduzir a incidência de pragas e doenças, obtendo assim maior produtividade e renda.
            Estudo de caso realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), em parceria com a Faculdade de Agronomia Cantareira2, na estufa instalada nas dependências daquele centro de ensino, mostra que, com investimento de R$ 37.211,74, se pode obter renda economicamente viável durante quatro anos de produção, após o período de um ano e meio de investimento. Esse montante é investido na aquisição de equipamentos e benfeitorias (R$ 14.900,00) e no custo de implantação da cultura de antúrio (R$ 22.311,74). Apenas a estufa de 1.100 m2 consumiu grande parte do capital inicial, no valor de R$ 9.900,00, enquanto os equipamentos utilizados na irrigação, fertirrigação, microaspersão e pulverização somaram o valor de R$ 5.000,00.
            A parte interna da estufa é dividida em vários canteiros, preenchidos com substratos preparados com mistura de terra, fibra de coco e adubos diversos: formulado 10-10-10, nitrato de amônio, fosfatado MAP, nitrato de potássio, sulfato de magnésio e nitrato de cálcio (tabela 1).
            O Custo Operacional Total (COT) de implantação, de R$ 22.311,74, resultou de despesas em operações no valor de R$ 765,76 (3,4% do COT), material consumido no valor de R$ 19.452,94 (87%) – que teve como principal componente a muda importada da Holanda (R$ 14.400,00) – e outros itens (ou custos indiretos) no valor de R$ 2.093,04 (9.4%). O Custo Operacional Efetivo (COE), ou desembolso direto, representou 91% do COT, com R$ 20.218,70.

Tabela 1 – Custo Operacional Total de Implantação de Antúrios de Corte, São Paulo, 2001-02

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Especificação
Implantação
Qtde
R$/unid
Valor total
A – Operações
Preparo dos canteiros manual
40,00
R$1,50
R$60,00
Plantio manual
80,00
R$1,50
R$120,00
Fertirrigação operador+moto-bomba
10,00
R$2,57
R$25,70
Irrigação(regas) operador+moto-bomba
104,00
R$2,57
R$267,28
Preparo do substrato manual
16,00
R$1,50
R$24,00
Pulverização operador+pulverizador
128,00
R$1,51
R$193,28
Poda de limpeza e desbrota manual
24,00
R$1,51
R$36,24
Capina e limpeza manual
26,00
R$1,51
R$39,26
Subtotal 1
R$765,76
B - Material consumido
Mudas Holandesas
4800,00
R$3,00
R$14.400,00
Substrato (30m3/estufa) Fibra de coco (m3)
54,00
R$67,00
R$3.618,00
Reposição de substrato (3x/ano) Casca de pinus (m3)
18,00
R$67,00
R$1.206,00
Adubo 1 10-10-10 (kg)
120,00
R$0,50
R$60,00
Adubo 2 Nitrato de amônio (kg)
35,00
R$0,50
R$17,50
Adubo 3 MAP (kg)
12,00
R$0,70
R$8,40
Adubo 4 Nitrato de potássio (kg)
35,00
R$0,80
R$28,00
Adubo 5 Sulfato de magnésio (kg)
3,00
R$0,80
R$2,40
Adubo 6 Nitrato de cálcio (kg)
6,00
R$0,50
R$3,00
Purificador Hipoclorito de sódio (kg)
1,20
R$1,50
R$1,80
Bactericida Casumim (l)
1,00
R$47,70
R$47,70
Bactericida Catel (l)
3,00
R$9,38
R$28,14
Vasos de plástico Unidades
100,00
R$0,32
R$32,00
Subtotal 2
R$19.452,94
Custo Operacional Efetivo(COE)
R$20.218,70
C - Outros itens
Depreciação do investimento Implantação
0,00
R$0,00
R$0,00
Depreciação de máquinas Moto-bomba
120,00
R$0,61
R$73,20
Deprec. de benfeit. específicas Benfeitorias
2160,00
R$0,46
R$993,60
Assistência técnica1 Especializada
104,00
R$7,81
R$812,24
Encargos sociais2 Mão-de-obra
428,00
R$0,50
R$214,00
Encargos financeiros Recursos próprios
-
-
-
CESSR(2,2%)3 Imposto
-
-
-
Seguro (Proagro, Cosesp) Não realizado
-
-
-
Subtotal 3
R$2.093,04
Custo Operacional Total(COT)
R$22.311,74
1Considerou-se duas horas de assistência técnica especializada por semana.
2Refere-se à mão-de-obra (33%)
3Refere-se à contribuição a seguridade social (CESSR), 2,2% sobre a renda bruta
Fonte: Dados da pesquisa.

            O lucro operacional (receita menos custo) mostrou-se crescente, de R$ 9.485,18 no primeiro ano de produção para R$ 10.355,17, R$ 11.262,86 e R$ 11.285,43 entre o segundo e o quarto anos. A Taxa Interna de Retorno (TIR) do investimento ficou em 27,34% ao ano, superior à taxa mínima de atratividade de 10%, mostrando que o investimento é viável e lucrativo nas condições consideradas no estudo.
            Esses resultados são um indicativo de que a atividade pode ser uma alternativa interessante para os pequenos e médios produtores de hortaliças, verduras e legumes tradicionais, como opção de uso da terra e de capital.

Data de Publicação: 12/01/2004

Autor(es): Hiroshige Okawa (okawa@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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