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Chuvas e as Possíveis Perdas na Agropecuária Paulista, Safra 2009/10
O excesso
de chuvas que vem ocorrendo desde o mês de dezembro em todo o Estado de São
Paulo está causando estragos devido à erosão que destruiu caminhos internos nas
propriedades, arrancou pontes e tornou intransitáveis muitas estradas vicinais e
até mesmo estradas asfaltadas. As atividades mais prejudicadas nesse contexto
são as de produção de hortaliças folhosas e de leite, produtos altamente
perecíveis. Além disso, as chuvas excessivas favorecem as doenças fúngicas e bacterianas, prejudicando o processo de colheita e a qualidade de muitos produtos. Apresenta-se abaixo uma análise preliminar das perdas prováveis na produção paulista, com ênfase em avaliação qualitativa, uma vez que as chuvas devem continuar ocorrendo. Só então passado esse período é que as perdas poderão ser calculadas com maior precisão, através de levantamentos detalhados, quando se encerrarem os ciclos produtivos em curso. Café Entre agosto e dezembro de 2009, as floradas de café apresentaram uma formação bastante desuniforme, provavelmente em função das alterações climáticas observadas no período. Em consequência disso, pode-se observar atualmente nos cafezais desde chumbinhos até café já granado. O maior risco que pode ocorrer não se refere propriamente à quantidade produzida, mas sim ao comprometimento da qualidade dos grãos, seja pela falta de uniformidade da maturação ou dificuldades na colheita e secagem. Nos principais cinturões cafeeiros, especialmente nos de arábica mais meridionalmente posicionados, verificaram-se substanciais precipitações durante a época da colheita com prejuízos diretos no quesito qualidade da bebida. Estes foram observados principalmente para os cafeicultores com compromissos financeiros em processo de liquidação (CPRs – física e financeira - e títulos financeiros – contratos futuros e opções), uma vez que o custo para padronizar os lotes elevou-se, segundo a qualidade exigida pelos contratos. Houve situações em que o cafeicultor desistiu do exercício de entrega do produto (caso das opções públicas) em função do elevado encargo financeiro, para preparar seu café nas unidades de rebenefício, em que se exige elevado volume de produto para a formação de lotes homogêneos. A condição anterior de excessiva umidade manteve-se, promovendo uma espécie de 'descompensação' fenológica dos cafeeiros, caracterizada pela incidência de diversas fases do ciclo reprodutivo da planta no mesmo ramo produtivo. Ou seja, botões florais, flores abertas, chumbinhos, grãos verdes e até em princípio de maturação podem, nesse momento, ser encontrados em grande profusão nos talhões de café. Essa multiplicidade de fases reprodutivas no mesmo ramo de produção trará três efeitos perversos para a economia cafeeira: a) a colheita tenderá a ser mais custosa, em virtude do maior número de repasses necessários para recolher grãos em estágio de maturação apropriado; b) haverá problemas novamente esse ano com a qualidade da bebida, pois há tendência para que ocorra imensa mistura de grãos; e c) a sobreposição de fases reprodutivas nos ramos também pode acarretar em perdas no volume previsto para a colheita. Excetuam-se, nesse caso, os cafeicultores que descascam os frutos. Porém, ainda não se pode atribuir grande prejuízo ou comprometimento da quantidade produzida de café ao excesso de chuvas no Estado de São Paulo. O levantamento realizado em janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) indica que a produção de São Paulo ficará entre 3,9 e 4,1 milhões de sacas de 60 Kg de café beneficiado, o que representaria um incremento entre 12,7% e 19,9% em relação à safra anterior. Tal aumento se justifica pela bienalidade da produção cafeeira. O EDR de Ribeirão Preto, contudo, estima perdas de até 10%, sobretudo pelo comprometimento da infraestrutura para o escoamento da colheita. Grãos Entre as culturas de grãos, as que mais vêm sofrendo danos são as de amendoim e feijão, leguminosas de ciclo curto e muito sensíveis às adversidades climáticas. As chuvas excessivas nos últimos meses têm prejudicado todas as fases dessas culturas, mormente as da maturação e colheita. No caso do amendoim, se as chuvas persistirem até a colheita da maior parte das lavouras em curso, os danos não serão apenas quantitativos. Isso porque, mesmo quando não inviabilizam a colheita, as chuvas podem causar danos qualitativos, com a forte ocorrência da aflatoxina que deprecia acentuadamente o produto. Dada a diversidade do desenvolvimento das culturas nas regiões do Estado de São Paulo, torna-se difícil mensurar o estrago na cultura de feijão, embora haja informações de perdas da ordem de 30% a 50% na produção das regiões de Avaré e Itapeva, as maiores produtoras. Nos casos de milho e soja, as informações preliminares sobre perdas variam de 10% a 20%, números passíveis de retificação dada a possibilidade de alguma recuperação do estado vegetativo ou de maturação, principalmente da soja. A cultura do milho de verão encontra-se em vários estágios do ciclo produtivo no Estado, dada a amplitude do período de semeadura da presente safra, favorecida pelo início precoce do período chuvoso. Além das precipitações pluviais excessivas, a ocorrência de dias nublados com baixo nível de insolação prejudica a fotossíntese, afetando, assim, o potencial produtivo das plantas. No caso do arroz, grande parte das lavouras paulistas com o produto ficou inundada, o que está dificultando a colheita e prejudicando a qualidade dos grãos. Os prejuízos decorrentes das chuvas excessivas vão além das perdas quantitativas e qualitativas da produção de grãos. Houve ainda aumentos dos custos de produção, decorrentes da dificuldade de locomoção de máquinas, veículos e de trabalhadores para a execução de operações agrícolas e comerciais. Devido ao fato da combinação de umidade excessiva e temperaturas elevadas favorecer a ocorrência de pragas e o desenvolvimento de doenças e ervas daninhas nas culturas, há também uma maior utilização de inseticidas, fungicidas ou herbicidas. Além disso, os grãos colhidos com alto teor de umidade terão que passar, necessariamente, por secadores, o que também eleva os custos do produto. Frutas As chuvas que assolam o Estado de São Paulo desde dezembro de 2009 coincidem com a época de safra da maioria das frutas de clima temperado aqui produzidas, prejudicando principalmente a qualidade das mesmas. A uva está apresentando problemas de 'coroinha' (botrytis cinerea), fungo pós-colheita que causa perdas durante a comercialização da fruta e influi na qualidade, o que afeta seu preço no atacado. Não se pode, ainda, quantificar as perdas no campo causadas pelas chuvas na viticultura paulista, mas é possível afirmar que a redução da qualidade da fruta é grande, afetando também o teor de sólidos solúveis. Quanto ao figo, que apresenta o pico da safra nesses meses bastante chuvosos, sua qualidade está sendo prejudicada, principalmente pela redução do tempo de prateleira da fruta, altamente perecível. Não há dados que permitam quantificar quais serão as perdas nas safras de caqui e goiaba afetados por chuva de granizo no final do ano, mas pode-se afirmar que a produção dessas frutas será inferior ao previsto em condições normais. Também a produção de manga foi bastante reduzida devido às chuvas intensas e ventanias do final do ano passado, que já prejudicaram o início do ciclo produtivo, ou seja, a florada e a formação de frutos. No caso dos citros, embora não haja maiores perdas de produção, o custo de manutenção dos pomares deve aumentar devido à maior incidência de doenças e pragas favorecidas pelo excesso de umidade, além de dificuldades na colheita e transporte. De um modo geral, como as frutas muitas vezes não estão alcançando os padrões exigidos pelo controle de qualidade do varejo, boa parte delas tem sido descartada já no campo, ocasionando perdas aos produtores. Cana A atividade encontra-se em seu período de entressafra no Estado, que habitualmente inicia-se na segunda quinzena de dezembro do ano anterior e se estende até o fim de março do ano seguinte. As chuvas que ocorrem com grande intensidade em São Paulo a partir do segundo semestre de 2009 causou um atraso considerável na colheita da cana, o que ocasionou um efeito danoso na oferta regular de matéria-prima (cana) para as unidades produtoras (usinas). Desta forma, algumas unidades entraram no período normal de entressafra colhendo cana nos intervalos de trégua da chuva, acarretando uma possível redução da manutenção das máquinas e equipamentos e dos tratos agrícolas Em plena safra, houve precipitações pluviométricas acima da média para o período, aumentando consequentemente o número de dias parados na produção. Essa alteração climática também levou a uma diminuição na qualidade da cana em termos de concentração de açúcares totais recuperáveis (ATR), o que incide diretamente na quantidade de transformação de cana nos produtos açúcar e álcool. Outro efeito provável por conta das excessivas chuvas é a impossibilidade de colher a cana, resultando numa quantidade considerável da safra 2009/10 em pé ou bisada, o que, em parte, compromete a oferta da mesma. Dados preliminares obtidos na CATI dão conta que poderá haver uma quantidade de cana bisada em torno de 10% da produção da safra 2009/10, o que significa cerca de 40 milhões de toneladas. Algumas regiões foram mais afetadas do que outras, portanto estão com maiores dificuldades. Vale ressaltar que as chuvas excessivas não são a principal causa dos aumentos recentes do preço do açúcar e do álcool. Outros fatores contribuíram com maior peso, a exemplo das importações de açúcar pela Índia e o aumento da demanda por etanol, ou seja, é mais uma questão de mercado do que de chuvas. Em resumo, pode-se afirmar que as chuvas ocasionaram problemas pontuais na colheita da cana, o que de fato já ocorreu e, de certa forma, foi resolvido com a competência na gestão das usinas em reorganizar o cronograma de colheita e, assim, mitigar ao máximo os efeitos das precipitações pluviais. Pecuária Embora as chuvas sejam favoráveis ao bom desenvolvimento das pastagens, elas estão causando estragos nas estradas internas das fazendas e nas vicinais, prejudicando ou mesmo inviabilizando o transporte do leite e dos animais em ponto de abate. Mandioca A cultura e o mercado da mandioca vêm sendo pouco afetadas. As regiões, dentre elas as principais produtoras do Estado, Mogi Mirim e Assis, têm passado pelo período de chuvas com alguns prejuízos. Isto porque esse período coincidiu com o período de entressafra da mandioca de indústria, sendo que algumas fecularias continuam operando com uma menor oferta do produto. Destaca-se que as operações de colheita/transporte e demais operações agrícolas auxiliares foram afetadas com o excesso de chuvas, impedindo muitos produtores de realizar a colheita para mesa e alguns da indústria. Na região de Mogi Mirim, principal produtora de mandioca de mesa, o excesso de chuvas vem prejudicando algumas plantações com a podridão na raiz. Essa situação poderá, também, afetar a qualidade da maniva para o plantio da próxima safra. Os produtores de mandioca de mesa que colhem seu produto nesse período conseguem abastecer o mercado sem grandes problemas, uma vez que é a época de menor consumo pela população. Olerícolas Por contemplar culturas com grande sensibilidade às chuvas, esta é a atividade que mais perdas teve no decorrer do período chuvoso. As culturas de tomate, cebola, folhosas e outras olerícolas apresentaram perdas significativas, sendo que elas chegaram a cerca de 40% da produção em algumas regiões, principalmente nos cultivos que não possuem ambiente protegido. Isto tem sido evidenciado no mercado em todos os equipamentos, com registros de altas de preços, queda na qualidade dos produtos e até ausência de alguns itens. Palavras-chave: perdas, agricultura, safra.
Data de Publicação: 08/02/2010
Autor(es):
Sérgio Alves Torquato (storquato@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Alfredo Tsunechiro (tsunechiro@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Sônia Santana Martins (soniasm@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Celia Martins De Souza (mcmsouza@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Katia Nachiluk (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maximiliano Miura (maximiliano.miura@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor