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Investimentos das Transnacionais no Agronegócio Mundial: um breve olhar sobre o WIR 2009
                                 
Recentemente, a United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), 
divulgou seu relatório anual denominado World Investment Report 2009 (WIR 
2009)1. Como tradicionalmente ocorre, a primeira parte desse 
documento analisa a evolução dos Investimentos Diretos Estrangeiros 
(IDEs)2,3 das empresas transnacionais no mundo por regiões, países 
etc. 
             
Em função da elevação dos preços das commodities agrícolas, especialmente 
no primeiro semestre de 2008, na segunda parte do referido documento, a ênfase 
recai sobre os investimentos diretos das empresas transnacionais que atuam no 
agronegócio. Mais especificamente, é necessário realçar que a agropecuária 
desempenha papel relevante no processo de crescimento econômico dos países em 
desenvolvimento, contribuindo decisivamente para a produção de alimentos, 
erradicação da pobreza e da fome, além de empregar quantidade considerável de 
pessoas no campo e na geração de divisas. 
             
Conforme o WIR 2009, os investimentos na agricultura se norteiam para 
lugares com disponibilidade de terras e água, combinado com o rápido crescimento 
da demanda e aumento das importações de alimentos em vários países que incluem 
os emergentes mais populosos, entre os quais: Brasil, China, Índia e Coreia do 
Sul. É necessário enfatizar que a demanda internacional por commodities 
agrícolas foi estimulada por vários fatores, como os biocombustíveis, que 
resultou em investimentos em países em desenvolvimento no cultivo de 
cana-de-açúcar, grãos (milho), oleaginosas (soja), além de culturas não 
alimentares como o pinhão-manso. Estas tendências estão entrelaçadas com o 
rápido crescimento dos preços dos alimentos nos últimos anos em função da 
escassez de algumas commodities, como o arroz, que atraiu novos 
investidores e também desencadeou investimentos especulativos na agricultura e 
na aquisição de terras. 
             Esse 
texto objetiva apresentar um breve panorama dos investimentos diretos no 
agronegócio ao redor do mundo, com base no WIR 2009. 
             Ao se 
falar em investimentos diretos, dois são os enfoques. O primeiro deles se refere 
ao estoque de investimentos diretos. O segundo envolve os fluxos desses 
investimentos. De acordo com Mankiw4, o estoque é definido como a 
quantidade medida num dado ponto do tempo, enquanto que o fluxo é a quantidade 
medida por unidade de tempo. 
             
Conforme o WIR 2009, apesar dos fluxos de investimentos diretos na 
agropecuária terem evoluído positivamente, saltando de US$ 600,00 milhões ao ano 
no período de 1989-1991 para US$ 3,3 bilhões ao ano no período de 2005-2007, 
ainda assim o fluxo de investimentos diretos no segmento agropecuário é pequeno, 
relativamente aos investimentos diretos totais no mundo, pois representam 
somente 0,2% desse montante. 
             Ainda 
de acordo com o WIR 2009, mas em relação aos estoques, porém, desta vez, com 
base no agronegócio e não no segmento da agropecuária exclusivamente, 
verifica-se que o estoque líquido de entrada de IDE do agronegócio em 2007 foi 
de US$ 32 bilhões, o qual, aparentemente expressivo, também representa somente 
0,2% do IDE total mundial. 
             Os 
números relacionados à jusante5 do setor agropecuário mostram que os 
fluxos de IDEs das empresas transnacionais para os segmentos de alimentos e 
bebidas totalizaram US$ 40,00 bilhões ao ano no período de 2005 a 2007, em 
âmbito global. Nesse caso, há dois aspectos a serem observados. O primeiro diz 
respeito ao fato de que os fluxos de IDEs para as empresas de alimentos e 
bebidas são superiores aos destinados para a agropecuária. O segundo é que, em 
termos absolutos, os fluxos de IDEs para os segmentos de alimentos e bebidas são 
consideráveis. No entanto, em termos relativos, esses representam somente 2,8% 
do fluxo total mundial de IDEs. 
             Outro 
aspecto relevante reside no fato de que, apesar do IDE na agricultura ser 
relativamente pequeno em relação ao IDE total nos países desenvolvidos, nos 
países menos desenvolvidos a situação se inverte, pois a participação do IDE na 
agricultura desses países, tanto em termos de fluxo quanto de estoque, assume 
expressiva relevância. Esse é um resultado esperado e mostra que há relação 
direta com o grau de desenvolvimento do país. Quanto maior a participação da 
agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB)6, 7 de um país, menor o 
seu nível de desenvolvimento e, consequentemente, menores são as participações 
dos segmentos de indústria e serviços em seu PIB. Por outro lado, quanto mais 
desenvolvido um país, menor a participação da agropecuária e maiores as 
participações da indústria e serviços em seu PIB. 
             Em 
termos de fluxo de IDE na agricultura por país, segundo o ranking 
elaborado pela UNCTAD no WIR 2009 no período de 2005 a 2007, na 
média, a liderança fica por conta do Camboja com 15,1%, seguido pelo Laos com 
12,0% e Malásia com 10,9%. Considerando-se o estoque líquido de IDE na 
agricultura e sua respectiva participação percentual para igual período, a 
liderança cabe a Suazilândia com 15,2%, seguido pelo Malawi com 13,1% e Zâmbia 
com 11,7%. Essa expressiva participação do IDE no segmento agrícola desses 
países está diretamente relacionada com a disponibilidade de terras 
agricultáveis que permitem seu arrendamento de longo prazo, além de políticas 
domésticas que estimulam investimentos na agricultura. 
             Os 
dados por tipo de cultura do WIR 2009 mostram que o IDE é relativamente 
expressivo em certas culturas de caráter comercial, tais como: cana-de-açúcar, 
flores de corte e legumes. Em linhas gerais, os investimentos diretos na 
agricultura nos países em desenvolvimento objetivam culturas com alto 
rendimento. Especificamente em termos geográficos, há grande interesse na 
produção de biocombustíveis, com destaque para oleaginosas na África e 
cana-de-açúcar na América do Sul, sendo que, nesse último caso, o destaque fica 
por conta do Brasil. Conforme pode ser apreciado na tabela 1, o Brasil, em 2007, 
foi responsável por 36,5% da produção mundial de etanol, perdendo somente para 
os Estados Unidos que geraram um pouco mais da metade de toda a produção 
global. 
 Tabela 1 - Produção de Biocombustíveis em 
Economias Selecionadas, 2007  milhões de 
      litros percentual na  
       produção 
      mundial milhões de  
       litros produção 
      mundial             Em 
relação ao continente asiático, os dados do WIR 2009 mostram que no sul da Ásia 
os investidores estrangeiros focam produção em larga escala de arroz e trigo, 
enquanto suas atividades em outras regiões do continente se concentram em 
culturas de alto rendimento, como carnes e aves. 
             
Finalmente, as empresas transnacionais com investimentos nas economias em 
transição focam produtos lácteos e, mais recentemente, trigo e 
grãos. 
             
Quanto à participação das empresas transnacionais em cada elo da cadeia do 
agronegócio, o WIR 2009 mostra que há equilíbrio entre o número de empresas 
transnacionais de países desenvolvidos e em desenvolvimento em relação aos 
investimentos diretos na agropecuária. Das 25 maiores empresas que atuam no 
setor agropecuário, 13 delas são de países desenvolvidos e 12 de países em 
desenvolvimento, o que indica que as empresas com foco na agropecuária dos 
países em desenvolvimento estão se tornando importantes players desse 
segmento no mercado internacional. 
             Em 
relação às empresas que atuam no setor agropecuário, os dados revelam que entre 
as maiores empresas do setor de insumos agrícolas, 25 são transnacionais de 
países desenvolvidos. O mesmo quadro prevalece em relação às empresas que estão 
à jusante da produção agropecuária. Especificamente no segmento de processamento 
de alimentos, 39 das 50 maiores empresas desse segmento são de países 
desenvolvidos. Comparativamente a outras transnacionais do agronegócio, aquelas 
que atuam no processamento de alimentos e bebidas são as maiores. Para se ter 
uma dimensão do grau de concentração nesse segmento, as nove maiores são de 
países desenvolvidos e cada uma controla ativos no exterior em torno de US$20 
bilhões. Juntas, representam mais de 2/3 dos ativos externos das 50 maiores 
empresas desse segmento. 
             Para 
finalizar, conforme apresentado no WIR 2009, as empresas varejistas e 
supermercados transnacionais também possuem importante papel na cadeia 
internacional de oferta de produtos agrícolas com agregação de valor. Nesse 
caso, das 25 maiores empresas transnacionais desse segmento, 22 são de países 
desenvolvidos.  2De acordo com Salvatore (2000), 
os investimentos diretos "são investimentos em fábricas, bens de capital e 
estoques que envolvem capital e gerenciamento e no qual o investidor detém 
controle sobre a utilização do capital investido. O investimento direto 
geralmente se faz sob a forma de uma empresa que cria uma subsidiária ou que 
passa a controlar uma outra (por exemplo, ao comprar a maior parte das ações). 
No contexto internacional, os investimentos diretos são geralmente realizados 
pelas corporações transnacionais que atuam nas áreas de fabricação, extração de 
recursos ou serviços". 
 3SALVATORE, D. Economia 
internacional. Rio de Janeiro: LTC, 2000. 436p. 
 4MANKIW, N. G. 
Macroeconomics. [S.l.]: Worth, 2000. 553 p. 
 5Basicamente, o agronegócio 
envolve três segmentos. O primeiro deles corresponde ao setor à jusante, ou 
seja, que antecede a produção agropecuária e é composto pelas indústrias 
produtoras de insumos modernos para a agropecuária, tais como: as indústrias de 
fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas, sementes etc. O segundo elo do 
agronegócio é composto pela própria produção agropecuária. Finalmente, a 
montante do segmento agropecuário, ou seja, depois da porteira, têm-se as 
indústrias processadoras de alimentos, bebidas, têxtil etc. 
 6O PIB é "a soma das quantidades 
de bens finais produzidos em uma economia vezes os preços correntes desses bens" 
(Blanchard, 2001). 
 7BLANCHARD, O. 
Macroeconomia: teoria e política econômica. Rio de Janeiro: Campus. 2001. 
656p. 
 Palavras-chave: UNCTAD, agronegócio, WIR 
2009. 
  
  
  
     
  Economia/grupo 
    
       
    
     
       
    
       
     
  
       
    
       
    
     
       
    
       
     
  Mundo 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  Brasil 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  Canadá 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  China 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  União Europeia 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  Índia 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  Indonésia 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  Malásia 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     
  Estados Unidos 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
     Outros 
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
 
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1UNCTAD – UNITED NATIONS 
CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2009: 
transnational corporations, agricultural production and development (WIR 2009). 
Geneva: UNCTAD, 2009. 
Data de Publicação: 07/10/2009
Autor(es): Mario Antonio Margarido (mamargarido@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor

                    
                        